Publicado em 20/02/2019A possível transferência da embaixada do Brasil em Israel de Tel-Aviv para Jerusalém passa ao largo das rodas das conversas e negociações de bastidores entre importadores e representantes dos frigoríficos brasileiros na principal feira de alimentos do Oriente Médio. A ausência da discussão é um alívio para os exportadores de carnes bovina e de frango que participam da Gulfood, evento anual que em 2019 ocorre em Dubai entre 16 e 21 de fevereiro.
Quando, ainda em campanha, o presidente Jair Bolsonaro anunciou a intenção de transferir a embaixada, contrariando a posição história da diplomacia nacional em relação à Palestina, os produtores de carnes ficaram em polvorosa. O risco de perder o acesso ao mercado árabe, responsável por quase 20% das exportações brasileiras de carne bovina e 40% dos embarques de frango, deixou os empresários de cabelo em pé.
Nesse meio tempo, o Egito chegou a cancelar uma visita do chanceler brasileiro na ocasião, Aloysio Nunes Ferreira, o que foi encarado como um sinal dos árabes sobre o que poderia estar em jogo com a possível transferência. Aos poucos, porém, a lógica econômica parece ter se sobreposto, ainda que não se possa descartar o efeito positivo das declarações do vice-presidente Antonio Hamilton Mourão, que negou que a transferência já estivesse decidida.
De qualquer forma, empresários e executivos consultados pelo Valor em Dubai ressaltaram que, durante a feira, até agora sequer foram questionados pelos importadores sobre o caso da embaixada. "Nem perguntaram", comemorou o vice-presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin. A afirmação foi corroborada pela diretora-executiva da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), Liège Nogueira. "Eles precisam da carne", acrescentou o dono de um frigorífico brasileiro de carne bovina.
Ironicamente, a única pessoa que tocou no assunto junto aos exportadores do Brasil foi o embaixador do país nos Emirados Árabes Unidos, Fernando Igreja. Ainda assim, o fez para se certificar de que o assunto não esteve na pauta da Gulfood, afirmou uma fonte ao Valor.
De passagem pela feira, o embaixador conversou com a reportagem e confirmou a boa impressão sobre os contatos que teve com os brasileiros. "Não é um tema e não é motivo de preocupação", afirmou Igreja, que está à frente da representação brasileira em Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes Unidos, há um ano e oito meses. De acordo com ele, parte do clima positivo em relação ao Brasil pode estar relacionado ao ambiente de Dubai, "pró-business".
"O Brasil é um grande parceiro e a relação com os Emirados tem melhorado nos últimos cinco anos", acrescentou Igreja, lembrando que o país é o segundo maior parceiro comercial do Brasil no mundo árabe, atrás apenas da Arábia Saudita. Ao Valor, um empresário brasileiro de ascendência saudita reforçou o "pragmatismo" no Oriente Médio e, sobretudo, em Dubai. "Eles vieram fazer negócios", disse, explicando porque o entra e sai dos estandes das empresas brasileiras na feira teve como pauta comércio, não política. Com informações do Valor.