Publicado em 16/08/2022Representantes da União Europeia buscaram o governo brasileiro, por meio do Itamaraty e do Ministério da Economia, com o objetivo de avançar nas negociações sobre o acordo com o Mercosul, após longo período de tratativas paralisadas, informaram à Reuters duas fontes com conhecimento do assunto.
O indicativo de reaproximação dos europeus após uma série de entraves para efetivar o acordo é visto no governo brasileiro como um sinal do redesenho das cadeias globais de valor, especialmente após a pandemia e a guerra na Ucrânia, que teria ampliado o poder do Brasil nas negociações.
Desde 2021 a Uniao Europeia vinha falando em enviar uma proposta de carta complementar ao acordo com demandas na área ambiental, em meio ao aumento nos índices de desmatamento na Amazônia que tornaram o governo do presidente Jair Bolsonaro alvo de críticas contundentes no exterior. Essa proposta, no entanto, nunca chegou a ser efetivamente enviada.
Há cerca de duas semanas, integrantes do governo tiveram uma conversa preliminar com emissários do bloco e uma nova reunião está prevista para ocorrer até o fim de setembro para traçar um cronograma de encontros, disse uma das fontes, que é do governo e falou sob condição de anonimato porque os debates são privados.
“Essa discussão estava enterrada, eles voltaram a discutir o acordo entre Mercosul e União Europeia justamente porque precisam de commodities agrícolas, minerais e energéticas, não podem contar mais com a Rússia, há o problema de disrupção da cadeia de suprimentos, excessiva dependência da Ásia”, disse.
Um diplomata europeu confirmou à Reuters a retomada do contato para efetivar uma nova rodada de conversas com o Brasil.
De acordo com a fonte do governo brasileiro, os europeus disseram que estão interessados em ratificar o acordo e os dois lados da mesa discutirão os termos. A previsão dessa autoridade é que a carta com a proposta de compromissos adicionais na área ambiental seja recebida até o fim deste ano.
“O movimento tomou nova dinâmica. Estava paralisado e voltou a andar”, afirmou.
O fato de emissários da UE terem procurado o Brasil denota, para ala do governo, que a questão ambiental vinha sendo utilizada para retardar a implementação do acordo em nome de interesses protecionistas agrícolas de alguns países do bloco europeu, e que não seria mais determinante.
Em evento na semana passada, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que a França está se tornando irrelevante para o Brasil, fazendo uma comparação com o aumento da corrente de comércio brasileira com a China.
Ao citar conversa com um ministro francês, ele disse que “é melhor vocês nos tratarem bem, se não vamos ligar o foda-se para vocês”. “Ou eles abrem o mercado para nós, Mercosul, nós, os argentinos... ou eles vão ficar irrelevantes para nós”, acrescentou. Com informações da Reuters.