Publicado em 26/05/2022Depois do embargo ao frigorífico da JBS em Mozarlândia, no dia 23 de março, nesta semana os chineses anunciaram também a suspensão da importação de carne da unidade da indústria localizada em Senador Canedo.
Pecuaristas alegam que a decisão foi anunciada num momento em que há muito boi gordo pronto para abate e que o excesso de animais no pasto ou no confinamento aumenta o prejuízo do setor, pois o preço da arroba já está em queda.
Para a indústria, este gado deve ser absorvido para abate em outros frigoríficos e, em breve, o mercado irá ajustar esta demanda e oferta.
Desta vez, a Administração Geral de Alfândegas da China suspendeu temporariamente as importações de mais quatro frigoríficos brasileiros, duas plantas da JBS e duas da Marfrig.
O presidente da Associação Goiana de Produtores de Novilho Precoce, Ronam Antônio Azzi, lembra que a JBS abatia 2.400 animais por dia em Mozarlândia e 900 em Senador Canedo. Segundo ele, o abate diário na unidade de Mozarlândia teria sido reduzido para apenas 300 bois.
A informação inicial é de que a suspensão de Senador Canedo será de uma semana, mas a de Mozarlândia era para durar um mês e já tem mais de 60 dias. Ronam afirma que pecuaristas com bois em confinamento estão muito preocupados com o provável prejuízo, que deve impactar toda cadeia. “Quem compra garrote ou bezerro não está comprando porque não está vendendo seus bois”, destaca.
Segundo ele, estes embargos já se refletem no preço da arroba. “Estávamos vendendo por até R$ 330 e, hoje, está R$ 270. O pior disso tudo é que o consumidor continua pagando caro pela carne”, alerta.
A queda no preço de um boi com 20 arrobas já chegaria a R$ 1.400. O pecuarista explica que o custo do confinamento está muito alto (R$ 24 a R$ 25 por dia) e que o boi ficando mais tempo no pasto perde peso nesta época de seca.
Manobras
Para o pecuarista Raul Douglas Celestino, a suspensão temporária das importações destas quatro unidades de regiões importantes para o gado de corte pelo mercado chinês é uma manobra mercadológica para reduzir os preços.
Um indício, segundo ele, é que as exportações continuam, e os preços da arroba estão em queda. “Estão apenas represando o gado em algumas regiões para baixar o valor da arroba, o que tem afetado toda a cadeia”, diz.
Com isso, a defasagem já é de R$ 1 mil por cabeça e nada é feito para retomar as exportações na unidade da JBS de Mozarlândia. “Isso está indo para o bolso dos chineses e da indústria porque o consumidor continua pagando caro”, adverte.
Raul prevê que isso possa causar uma quebra na cadeia de produção no Estado. “Hoje, o boi está sendo vendido a preço de vaca e a vaca está praticamente de graça. Mas o lucro da indústria só cresce e o preço não baixa nos açougues para o consumidor. Sem lucro, o produtor vai acabar parando.”
O presidente da Comissão de Pecuária de Corte da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado (Faeg), Evandro Vilela, não acredita em manobra mercadológica. “Mas, se isso por acaso fosse mesmo uma manobra, seria apenas por parte da China, e não dos frigoríficos”, diz.
Para ele, esta é uma situação momentânea, mas que realmente vai impactar o setor, pois havia a esperança de que a unidade de Mozarlândia voltasse a exportar e as coisas se regularizassem, o que não aconteceu ainda.
“Temos muitos bois nos pastos ou no confinamento à espera do abate e, agora, a situação piorou”, avalia. Evandro acredita que estas são situações difíceis que podem acontecer na pecuária, que não tem o mercado final e entrega o produto apenas no frigorífico.
Cotações da Scot Consultoria apontam que o preço do quilo dos bovinos no atacado está ligeiramente menor que há cerca de um ano, com queda de R$ 18,06 para R$ 17,63.
O motivo para a suspensão das importações de carne bovina da unidade da JBS em Mozarlândia pela China foram indícios do vírus da Covid-19 nas embalagens de carne enviadas ao País. De acordo com o presidente do Sindicato das Indústrias de Carne e Derivados do Estado (Sindicarne), Leandro Stival, a unidade de Senador Canedo foi embargada pelo mesmo motivo.
“Estamos sujeitos às exigências de cada país. Isso acontece às vezes com outros países, mas não é divulgado. Não tem nada a ver com retaliação ou manobra para reduzir preços. É uma questão sanitária”, afirma. Ele lembra que os chineses também estão com uma política de “Zero Covid”, com um rigoroso lockdown e portos parados. Por isso, eles estão muito rigorosos na fiscalização.
“É um prejuízo muito grande para a indústria, que trabalha com vendas e embarques para 30 ou 60 dias para frente”, diz. O presidente do Sindicarne explica que os contratos de carne já vendida e até paga na China terão de ser negociados. “Temos carne que já está em trânsito nos navios ou parada nos portos.
O que já estiver chegando lá não poderá ser recebido e terá de ser destinado a outros mercados”, ressalta. Com os embargos, o frigorífico Minerva, de Palmeiras de Goiás, é o único habilitado para exportar para a China, onde os preços também já teriam caído muito. Os chineses respondem por 50% das exportações brasileiras de carne. Segundo Leandro, outras plantas da JBS e até de outros frigoríficos pelo País continuarão suprindo a demanda chinesa.
Por isso, as vendas não devem cair muito. “A JBS ficou parada por um tempo, mas já voltou a exportar destinando sua produção para outros mercados e isso não deve impactar muito no número de animais abatidos em Goiás. Não vai sobrar gado no pasto porque o mercado logo se ajusta”, prevê. Ele admite que há uma boa oferta de animais para abate e que as escalas estão mais longas, mas acredita que isso seja algo momentâneo. Com informações de O Popular.