Publicado em 01/10/2021Depois de quase dois anos de idas e vindas, o BNDES finalmente desistiu do follow on com qual pretendia se desfazer das ações de JBS — uma posição de R$ 22 bilhões, a segunda maior da carteira da BNDESPar.
Mas, ao contrário do que alguns investidores chegaram a supor, a decisão do BNDES não significa que o banco jogou a toalha. Pelo contrário.
A decisão do BNDES, revelada nesta manhã em comunicado divulgado pela JBS, ocorre justamente quando as ações do empresa dos irmãos Batista estão no all-time high — R$ 93 bilhões.
Na prática, o cancelamento da oferta pública libera o caminho para o banco vender os papéis a mercado, adotando um expediente semelhante ao usado em Vale, embolsando os lucros em block trade.
Um investidor não poderia vender os papéis em block trade se estiver com uma oferta pública em aberto na ponta vendedora, disse um banker ao Pipeline. Era justamente o caso da BNDES, que possui 23,16% da JBS.
"Quando o ofertante decide iniciar os estudos para realizar potencial oferta pública secundária, ele deve se abster de negociar com ações da companhia até o encerramento da oferta", explicou o Henry Sztutman, sócio do Pinheiro Neto Advogados e membro do conselho da Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca).
"Nesse caso, como o ofertante divulgou ao mercado a intenção de realizar a oferta, a comunicação da desistência pode ter a finalidade de liberá-lo da restrição legal para poder avaliar outras alternativas, mas isso seria especulativo", acrescentou o advogado.
Para o BNDES, a venda da posição em JBS deve ser bastante lucrativa. A preços de hoje, o BNDESPar lucraria mais de R$ 17 bilhões, um retorno real de mais de 100% e mais de 50% do CDI no período. "Se você indexar pela meta atuarial do fundo de pensão do BNDES, de IPCA + 5,25%, o retorno é de mais de 30%", calcula uma fonte.
Ao todo, o BNDES investiu R$ 8,1 bilhões em equity da JBS — incluindo a participação no frigorífico Bertin que foi convertida em ações da gigante de carnes. Há dois anos, quando os papéis da JBS eram negociados a R$ 27,42, o banco calculou o retorno em 11,3% ao ano. Os papéis agora valem mais de R$ 35.
A saída do BNDES também marcará o fim de um overhang que paira sobre o ativo. Em abril, o diretor de privatizações do banco, Leonardo Cabral, disse que a instituição preparava vendas de participações para os próximos meses e que a JBS era uma boa candidata, o que derrubou os papéis da companhia — prejudicando a própria estratégia de desinvestimento do banco.
As ações de JBS só se recuperaram plenamente nas últimas semanas, engatando uma expressiva valorização na esteira de relatórios positivos de Morgan Stanley, Santander e J.P. Morgan. Entre analistas, há quem veja espaço para o papel chegar a R$ 56, uma valorização de quase 60% — bom para o BNDES. Com informações do Valor.