Publicado em 03/03/2021Em ano de fortes perdas geradas pelas quarentenas decretadas pós-pandemia do coronavírus, a agropecuária foi o único dos três grandes setores da economia (serviços e indústria) que cresceu em 2020.
Em relação a 2019, o segmento avançou 2%, em meio ao tombo recorde de 4,1% do Produto Interno Bruto (PIB), mostram dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quarta-feira (3).
Com este resultado, a agropecuária aumentou a sua participação no PIB brasileiro de 5,1% em 2019, para 6,8% em 2020.
Segundo o IBGE, essa alta ocorreu pelo crescimento e ganho de produtividade das lavouras, com destaque para a soja (7,1%) e o café (24,4%), que alcançaram produções recordes na série histórica.
Por outro lado, no 4º trimestre de 2020, em relação a igual período de 2019, o agro teve variação negativa de 0,4% por perdas em culturas como a laranja (-10,6%) e o fumo (-8,4%).
Produtores e economistas consultados pelo G1 afirmam que os fatores ajudaram a impulsionar o agro em 2020 foram:
A safra recorde de grãos de 257,8 milhões de toneladas em 2019/2020;
Investimento dos produtores em pacotes tecnológicos avançados - sementes, defensivos, fertilizantes e rações de maior qualidade;
Clima favorável;
Demanda externa aquecida - receio de desabastecimento de alimentos por causa do fechamento de fronteiras impulsionou importações dos países. E Brasil é um grande exportador do setor;
Agro foi considerado uma atividade essencial durante a pandemia para evitar falta de mantimentos;
Auxílio emergencial aqueceu a demanda interna;
Valorização do dólar em relação ao real impulsionou exportações do agro;
Recomposição do rebanho suíno chinês após peste suína africana puxou vendas de soja e milho do Brasil - grãos viram ração para os animais;
Aumento da produção e exportação de carnes.
E 2021?
Para este ano, a expectativa é de mais crescimento, apesar de algumas preocupações dos produtores com o clima e custos de produção.
Consultado pelo G1, o economista Renato Conchon, da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), espera que a agropecuária avance mais 2,5% no PIB de 2021, apoiada na expectativa de mais uma safra recorde de grãos, estimada em 268,3 milhões de toneladas pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), até o momento.
"A colheita de grãos deve ser maior este ano do que em 2020, mas ela não deve vir tão boa quanto se esperava por questões climáticas e estabilização dos preços", diz Talita Pinto, pesquisadora do FGVAgro.
Os fatores que preocupam os produtores são:
O atraso na colheita de soja que postergou o plantio de milho;
Chuvas intensas na colheita que estão prejudicando a qualidade da soja em alguns locais do país;
Alta do dólar aumentou custo de importação de insumos, como fertilizantes e defensivos;
Preços elevados da soja e milho pressionam o custo da ração animal;
Apesar disso, economistas avaliam que as expectativas de crescimento para o PIB agropecuário e para a safra de grãos continuam muito positivas para o ano.
Agro: 'ilha da prosperidade'
O PIB calculado pelo IBGE leva em conta somente o que é produzido dentro das fazendas. Mas se colocar nessa conta tudo o que acontece da porteira para a fora, o crescimento do agro pode ter sido bem maior em 2020, e ter alcançando 19%, estima Talita, pesquisadora da FGV.
A projeção dela é para o PIB do agronegócio calculado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, em parceria com a CNA.
Esse indicador leva em conta o movimento de toda a cadeia do setor: insumos, agroindústria e serviços, que não pararam durante a pandemia, já que foram considerados atividades essenciais.
De janeiro a novembro de 2020, o índice expandiu 19,66%, contra o mesmo período de 2019. "Uma grande ilha de prosperidade para a economia brasileira", comenta Guilherme Bellotti, gerente de consultoria de Agronegócios do Itaú BBA.
"Apesar de todas as preocupações da pandemia, as pessoas continuam comprando comida. Elas podem substituir, por exemplo, uma carne de boi por frango ou porco, que seria mais barato, mas, ainda assim, continuam comprando", diz Talita, da FGV.
Este cenário, somado à valorização do dólar em relação ao real, puxou as exportações do agronegócio brasileiro, que chegaram a US$ 100,81 bilhões em 2020, segundo maior valor da série histórica, atrás somente de 2018.
As vendas externas foram puxadas, principalmente, pela soja. Somente a China comprou 73,2% do grão nacional.
"Algo importante que tem puxado as exportações brasileiras é a recomposição do rebanho suíno chinês, depois de uma liquidação que teve entre 2018 e 2019", diz Bellotti, do Itaú.
"Essa recomposição está ocorrendo baseado em um modelo de produção mais industrial, que depende de ração. E ração é basicamente farelo de soja e milho", acrescenta.
A redução do rebanho suíno aumentou também a demanda chinesa por proteínas animais, o que favoreceu, mais uma vez, o Brasil. Em 2020, o país bateu recorde de exportação de carne bovina e suína. Com informações do G1.