Publicado em 14/10/2020Embora polêmica, a expressão usada pela ministra da Agricultura, Tereza Cristina, de que o gado age como “bombeiro” no Pantanal, tem embasamento científico. A ideia, inclusive, foi reforçada pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, nesta terça-feira (13/10).
Segundo a pesquisadora da Embrapa Gado de Corte, Fabiana Villa Alves, o termo foi originalmente cunhado pelo pesquisador e professor aposentado da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, Arnildo Pott.
“Quando falou em 'boi bombeiro', ele se referia à questão de que o bovino no Pantanal tem um papel fundamental justamente na eliminação da macega, aquele pasto ou capim que fica seco”, destacou Fabiana, durante live promovida pela Revista Globo Rural para discutir a sustentabilidade na pecuária, nesta terça-feira (13/10).
Fabiana explica que, com 98% de pastagens nativas e animais adaptados a pastar em áreas alagadas, a produção de bovinos no Pantanal possui características únicas para a criação de gado e que não são replicáveis a nenhum outro lugar do país.
“O bovino, no Brasil, não quer dizer só dinheiro, não é só suporte para nossa economia nacional. Ele é um mantenedor e um conservador de áreas”, defende a pesquisadora, para quem a ministra foi mal interpretada. “Temos uma desconexão entre o que a ciência produz a respeito da nossa agropecuária, o que é repassado para sociedade e o que a sociedade civil consegue entender”, avalia Fabiana.
Equilíbrio
O fato de o boi ter papel importante no combate ao fogo no Pantanal, contudo, não deve ser justificativa para o aumento desenfreado do rebanho no bioma, ponderou a pesquisadora da Embrapa. Segundo Fabiana, a palavra chave nesse assunto é “equilíbrio”.
“No caso do Pantanal, há toda uma composição, que inclui áreas mais altas, áreas alagáveis, e tudo isso influencia na capacidade de suporte. Então, não adianta querer colocar mais animais para não ter fogo que o que você vai ter é erosão da pastagem, degradação de solo e uma série de outros problemas”, alertou a pesquisadora.
Ela também ressalta o papel da sustentabilidade nesse processo. “Aí é que vem a questão técnica, de se fazer correto. E isso se chama sustentabilidade: você ter uma pastagem que não se degrade com dois ou três anos de uso. A pastagem é perene, o capim é perene”, conclui Fabiana. Com informações do Globo Rural.