Publicado em 07/02/2020Após concluir a operação de venda de parte de suas ações na Petrobras nesta sexta (7), o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) deve começar o planejamento para se desfazer de sua participação no frigorífico JBS.
O banco de fomento é dono de 21,32% das empresas dos irmãos Batista, adquirida em uma série de operações para apoiar a expansão do grupo, que se tornaram alvo de polêmica e de investigações nos últimos anos. Pela cotação desta quinta (6), a fatia vale cerca de R$ 15,6 bilhões.
O BNDES já contratou estudos sobre a melhor forma de vender os papéis, mas esperava a conclusão da operação com as ações da Petrobras antes de avançar. Não há definição ainda sobre o modelo nem sobre o prazo para a conclusão do negócio.
As vendas de ações fazem parte de um processo de desinvestimento do banco, que ao fim do terceiro trimestre de 2019 tinha uma carteira avaliada em R$ 114,4 bilhões –considerando apenas os papéis sob o guarda-chuva do BNDESPar.
As ações da Petrobras oferecidas ao mercado não fazem parte dessa lista: são papéis ordinários (com direito a voto) que eram detidos diretamente pelo banco. A operação envolveu 9,6% das ações ordinárias da petroleira estatal.
Os investidores se comprometeram a pagar R$ 30 por cada ação, somando um total de R$ 22 bilhões. Segundo a Petrobras, investidores institucionais, como fundos e bancos de investimento, ficaram com 82,45% das ações. O restante foi adquirido por pessoas físicas.
Após a oferta, o BNDES permanece com 0,16% das ações ordinárias e 19,05% das ações preferenciais da Petrobras. A estatal permanece como a maior empresa da carteira do BNDES, responsável por 40,7% do valor de mercado avaliado em setembro de 2019.
A segunda maior, naquela ocasião, era a JBS –a posição acionária do banco no frigorífico valia R$ 19 bilhões. A venda desses papéis tem um complicador, que é o peso do BNDES no capital social da companhia: a oferta, em uma operação, de um volume tão grande de ações tem potencial para derrubar as ações.
O modelo de venda de participações do BNDES é questionado tanto pela AFBNDES (associação que reúne os funcionários do banco) quanto pela Abradin (Associação Brasileira de Investidores).
O presidente da AFBNDES, Arthur Koblitz, diz que a venda de grandes lotes de ações pode reduzir o ganho do banco, ao pressionar os papéis para baixo antes da operação. Ele questiona ainda vazamentos de informações sobre operações futuras, que também têm potencial de influenciar o mercado.
O preço recebido pelo BNDES na operação desta semana foi 1,57% inferior à cotação do pregão de quarta (5), quando o mercado precificou os papéis. No pregão desta quinta, dia de baixa na bolsa, as ações ordinárias da Petrobras subiram 2,7%, chegando a R$ 31,30.
Koblitz alega ainda que não há um plano de reinvestimento do dinheiro arrecadado com as vendas de ações. Parte do ganho vai inflar o lucro do banco e ser repassado ao Tesouro como dividendos. A política atual prevê a transferência de 60% do resultado. Com informações da Folha.