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Gases da pecuária - o outro lado da moeda
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Publicado em 31/01/2007 por Maurício Palma Nogueira*
A FAO – órgão das Nações Unidas para questões relacionadas à agricultura e alimentação - recomendou que a pecuária bovina resolvesse o “problema” ambiental que causa. Em recente estudo divulgado com o capcioso nome de “A grande sombra da pecuária”, de autoria de Henning Steinfeld, concluiu-se que os bovinos estão entre os grandes responsáveis pelo efeito estufa.
Segundo o estudo, o maior problema da pecuária é a emissão de metano (CH4). Cerca de 35% a 40% das emissões de metano vêm da pecuária bovina. O metano é 21 vezes mais prejudicial que o gás carbônico (CO2).
As produções de metano pelos bovinos variam de acordo com a alimentação. De maneira geral, animais alimentados exclusivamente a pasto emitem mais metano (CH4) que animais suplementados com concentrados. Em média, considera-se que bovinos emitam 56 kg/ano de metano. A emissão de gás carbônico, num rebanho de composição proporcional ao brasileiro, é de cerca de 50 kg/ano. As informações são baseadas em dados do IPCC (Intergovermental Panel on Climate Change), painel inter-governamental que acompanha as mudanças climáticas no mundo.
No entanto, os resultados são apresentados de maneira parcial, contendo apenas meias verdades. A impressão que fica é que a pecuária acaba sendo proibitiva, sob pena de grandes impactos ao meio ambiente. É preciso avaliar a contrapartida desta realidade; se os bovinos, assim como todos os demais animais, emitem gases poluidores, é preciso analisar os efeitos positivos da produção de pastagens para criá-los.
A pecuária brasileira, segundo estimativas da Scot Consultoria, possui 191,3 milhões de cabeças distribuídas em 176 milhões de hectares. Em média, portanto, existe 1,08 bovino sobre cada hectare de pastagem. Sendo assim, por hectare, os bovinos brasileiros emitem 60,5 kg de metano e 54 kg de gás carbônico por ano.
Porém, as mesmas pastagens que sustentam os bovinos também seqüestram carbono. Ainda existem poucos estudos, mas há estimativas de que, nas atuais condições, as pastagens brasileiras seqüestrem cerca de uma tonelada de carbono por ano para cada hectare. Outros dados sugerem que, quando bem manejadas, as pastagens podem seqüestrar 2 toneladas de carbono por ano/hectare. São informações de pesquisadores da Embrapa e de outras instituições, em estudos divulgados recentemente.
Nestas condições, o saldo ambiental da atividade pecuária é de 860 kg/ha de carbono seqüestrado por ano. Em outras palavras, para cada quilo de carbono emitido pelos bovinos, a mesma área ocupada retém 15,3 quilos.
Extrapolando a partir da demanda de matéria seca por animal, eficiência de pastejo, porcentagem de carbono na matéria seca e quantidade de carbono que fica retida no solo, pode-se estimar, grosso modo, aumentos da ordem de 1,5 a 2,0 toneladas de carbono seqüestrados para cada unidade animal que se aumentar na lotação da área.
O próprio nitrogênio da adubação contribuiria para aumentar o seqüestro de carbono. Para que o carbono não vá para a atmosfera, é preciso haver uma relação ideal entre carbono e nitrogênio. O nitrogênio ajuda na retenção de carbono.
Portanto, a pecuária não é problema ambiental nenhum. Mas é possível reduzir ainda mais as emissões, com melhor uso de resíduos, biodigestores, aumento de nitrogênio no sistema e outras medidas que permitam maior eficiência no uso do carbono.
*Maurício Palma Nogueira é engenheiro agrônomo diretor da Scot Consultoria. |
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