Publicado em 21/10/2010JOSÉ VICENTE FERRAZ
Publicado na Folha de S. Paulo em 21/10/2010
Maior exportador mundial de carne bovina, o Brasil, nos últimos sete anos, passou a ocupar também um lugar de destaque como exportador de bovinos vivos para abater.
Segundo dados da Secex (Secretaria de Comércio Exterior), em 2009 o país exportou mais de 500 mil cabeças, que geraram receita superior a US$ 250 milhões.
Países como Austrália e Canadá também são grandes exportadores de bovinos vivos para abate. Venezuela e Líbano são os importadores do produto brasileiro que, basicamente, é originário dos Estados do Pará (em sua esmagadora maioria) e do Rio Grande do Sul.
As exportações de gado em pé (como são normalmente chamadas), notadamente a partir do Pará, têm importantes reflexos positivos na economia regional.
Uma evidência clara desses benefícios é a valorização relativa do gado bovino paraense, o que gera mais renda para os produtores locais e efeitos multiplicadores sobre os investimentos na bovinocultura de corte. Os preços do gado gordo destinado ao abate no Pará, que, antes das exportações de gado em pé se consolidarem chegavam a ser até 25% menores que os pagos em São Paulo, depois das exportações tiveram a diferença reduzida para 15%, em média.
Trata-se de uma diferença que representa renda extra extremamente significativa para os produtores locais. É evidente que a concorrência pelo gado para abater com os exportadores de gado em pé não interessa à indústria frigorífica, que se vê obrigada a pagar mais por sua matéria-prima básica.
Nesse sentido, surgem críticas à exportação de gado vivo. Essas críticas são relativas ao bem-estar dos animais e ao fato de se estar exportando uma matéria-prima básica que, eventualmente, poderia agregar maior valor, gerando mais renda e empregos para o Brasil. A respeito dessas críticas, é necessário considerar que as evidências disponíveis indicam que elas não procedem quanto aos maus-tratos dos animais embarcados -os índices de mortalidade desses animais são semelhantes aos daqueles embarcados para abate doméstico.
Quanto às críticas de que seria possível agregar maior valor às exportações -em vez de exportar animais vivos seria mais vantajoso exportar a carne desses animais abatidos-, é claro que, teoricamente, isso é correto. Entretanto, é preciso considerar se os importadores aceitariam essa substituição.
Os países importadores de animais vivos o fazem por motivos culturais, estratégicos e religiosos e, muito provavelmente, passariam a adquirir os animais vivos de outros fornecedores se o Brasil se negasse a exportá-los.
JOSÉ VICENTE FERRAZ é engenheiro agrônomo e diretor técnico da AgraFNP.