Publicado em 29/02/2012por Fernando Penteado Cardoso, Eng. agr. sênior, ESALQ-USP 1936 – Fundador e ex-presidente da Manah S.A e da Fundação Agrisus. Produtor e criador em Mogi Mirim/SP
Participei dias atrás da solenidade de formatura das várias turmas de bacharéis da ESALQ-USP. Lá estava Da. Marina Silva como patrona dos formandos em silvicultura.
Ao saudá-los, a ex-ministra, após divagações e palavras estimulantes, disse que esperava que o Brasil se tornasse no século 21 a potência agrícola que foram os EUA no século 20, repetindo, assim, a previsão do laureado Norman Borlaug anos atrás.
Mas ela não explicou que para chegarem lá os gringos removeram a sombra de milhões de ha na região leste onde a terra era fértil e produtiva. Por ser mal conformado para o trabalho mecanizado, esse solo é ocupado hoje por pastagens onde é criada, em pequenos rebanhos, grande parte dos bezerros que amparam a eficiente pecuária de corte daquele país.
Mesmo em outras regiões, como Iowa por exemplo, além das campinas nativas (prairies), existiam florestas que foram removidas para dar lugar às culturas. Quem quiser saber mais, sugiro visitar os museus históricos de Syracuse/NY e Des Moines/IA.
Anos atrás, ao percorrer o estado da Virginia em companhia do agrônomo Collin McClung (pesquisador do IRI-Brasil, Medalha World Food Prize-WFP, 2006), que pesquisou cerrado no Brasil nos anos 1950, ele me explicou que as florestas primárias haviam todas sido cortadas para fornecer madeira para construir as grandes cidades como Nova York, Washington e outras. As Montanhas Azuis haviam sido posteriormente reflorestadas com outras espécies, pois não eram agricultáveis.
A imprensa noticiou que ao perguntarem se havia nos EUA algum político defensor de reservas florestais compulsórias em áreas particulares agricultáveis, responderam: “não temos, pois jamais seriam eleitos se defendessem tais ideias”.
Agora estamos mistificados pela florestamania. Temos 400 milhões de ha de mata amazônica, sendo em grande parte inundada, montanhosa, pedregosa ou muito remota. Classificam como pecado ambiental aproveitar os 100 milhões de ha de terras altas, bem conformadas, agricultáveis e bem localizadas, além de beneficiadas por chuva, sol, calor e transporte fluvial, parte das quais já foi aberta.
Alegam que iria alterar o clima porque as chuvas vêm da floresta. Grande bobagem, pois o clima é condicionado pelos oceanos, pelo sol e pela rotação da terra, como explicou o saudoso agrônomo climatologista, Ângelo Pais de Camargo em artigo publicado pelo Instituto Agronômico de Campinas-IAC. Estão confundindo causa e efeito: as florestas existem porque chove e não ao contrário.
Será que 300 milhões de ha de terras impróprias para agricultura, recobertas de florestas não seriam suficientes para promover os alegados benefícios? Criaram o mal definido conceito de “preservar os recursos naturais”. De que adianta dispor desses recursos se não forem aproveitados em benefício do homem? É praticamente o mesmo que preservar recursos naturais localizados em Marte ou na Lua.
É uma loucura planejar uma agricultura onde 80% das propriedades ficam ociosas, dispersando lavouras e habitações e aumentando distâncias, o que virá a elevar custos, além de dificultar o transporte, a assistência escolar e de saúde, bem como a garantia de segurança e justiça.
Mesmo nas áreas de mata de transição, - ditas “cerrado de pau reto”, com arvoredo leve e de fácil remoção,- reservar 35% representa um desperdício injustificável, em uma região de MT onde os riscos climáticos são reduzidos. O que seria de Sorriso e Lucas do Rio Verde em MT se seguissem essa limitação nos anos 1980?
Possivelmente teriam sido desperdiçadas a garra, a diligência e o empreendedorismo da gauchada valente, responsável pela notável produção de hoje e por cidades com IDH superior a 0,80. Elas não existiriam.
O que seria deste país caso não tivesse havido desmatamento para cana, café, cereais, citros, etc. etc.? Certamente não estaríamos por aqui para estas considerações e não haveria leitores para elas.
Para efeito histórico, científico e prazeroso bastam áreas florestais limitadas, a serem desapropriadas e administradas pelo poder público. Seriam oportunos igualmente incentivos e prêmios para bosques particulares voluntários com a mesma finalidade. Umas e outras conservariam a biodiversidade da coleção de espécies animais e vegetais.
Quanto ao vozerio internacional sobre florestas e clima, há que lembrar o empenho da União Nacional de Produtores-NFU, dos EUA, defendendo a tese das “fazendas aqui(EUA), florestas lá(Brasil e outros)” para reduzir uma possível concorrência agrícola dos países tropicais.
Assim mesmo vamos crescendo e desenvolvendo dentro do preceito: “quando o direito ignora a realidade, a realidade se vinga do direito”. Tal verdade explica nosso convívio com leis inexequíveis, como sejam leis que “pegam” e leis que “não pegam”.
Nossos legisladores sabem disso, mas estão presos à preocupação com imagens, aparências e a cabeça dos eleitores, origem vaga da expressão “politicamente correto”. Pouco se importam com a estratégia de crescimento condicionada ao fato de que a terra desmatada hoje leva 20 ou mais anos para ser plenamente cultivada após a decomposição dos troncos e tocos, empecilhos da mecanização.
Os profissionais da mídia, por seu lado, - no afã de produzir matéria atraente para seus leitores e espectadores -, descuidam-se da realidade e dos fundamentos tecno-científicos dos fatos em suas divulgações sobre o assunto.
Se a complexa, obscura e desiderativa legislação ambiental rural “não pegar”, talvez viremos a alcançar os 100 milhões de ha ora cultivados nos EUA**. Fora disso, face às atuais dificuldades de expansão, alcançar o nível dos Estados Unidos, como deseja a ex- Ministra ora urbanita, será apenas um sonho de noite de verão.
** Milhões ha: soja-30; milho-37; trigo-23; outras-10.