Publicado em 06/10/2011José Vicente Ferraz
Publicado na Folha de S. Paulo - 06/10/2011
A oferta de bovinos para o abate é um fator fundamental para produtores, processadores e consumidores de carne bovina, já que tem influência direta nos preços.
Os preços pagos pelos consumidores e recebidos pelos produtores e processadores de carne bovina são fortemente condicionados por uma oferta sujeita a múltiplas variáveis que dificultam os exercícios de previsão e, consequentemente, podem reservar surpresas nem sempre agradáveis para esses atores.
Se for tomada como exemplo a atual entressafra (que começa na segunda quinzena de julho e termina na primeira quinzena de dezembro), vamos verificar que existem fatores que apontam de forma contraditória tanto para a oferta restrita como para a mais folgada. Como indicador de uma oferta mais restrita verifica-se principalmente a atual fase do ciclo pecuário. Já apontando na direção de uma oferta mais folgada, ou apenas menos restrita, seria possível enumerar o provável aumento do volume de gado confinado neste ano.
E também o estado das pastagens em muitas regiões pecuárias brasileiras, que, afetadas pelo frio e ou pela seca, forçaram pecuaristas a vender lotes adicionais de animais para aliviar a pressão sobre as mesmas. Para complicar o quadro, devido às características de produção do gado bovino, a oferta está sujeita a deslocamentos pontuais no tempo.
O pecuarista de pasto, por exemplo, ainda que eventualmente pressionado pelas condições de pastagem, tem a possibilidade de atrasar a oferta por algumas semanas pelo menos provocando "buracos" de oferta. Já os confinadores, administrando o peso de entrada dos animais em confinamento e o ganho de peso diário, podem adiantar ou atrasar a saída dos animais.
Esses aspectos levam a um mercado volátil em termos de preços -situação que se acentua em anos como o atual, onde, pelo lado da demanda, se somam outros fatores que atuam também, às vezes, em sentidos opostos. As exportações são um exemplo. Com o volume em queda no acumulado do ano, funcionavam na prática, até certo ponto, como um freio às altas de preços.
A recente desvalorização do real em relação ao dólar pode inverter a tendência. Entretanto, se essa desvalorização for acompanhada de uma recessão global, o raciocínio pode ter de ser invertido novamente. Infelizmente, a instabilidade de preços é uma característica do mercado da carne bovina, fato que incomoda a todos que dele participam.
Para os consumidores, a alternativa diante da instabilidade é substituir o consumo. Para os produtores e processadores, usar mecanismos de fixação de preços em mercados futuros pode ser interessante.
*JOSÉ VICENTE FERRAZ é engenheiro-agrônomo e diretor técnico da Informa Economics FNP.