Publicado em 08/08/2011Editorial da Folha de S. Paulo
07/08/2011
Um sinal inquestionável do declínio político do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e da perda de sua capacidade de mobilização está nas cifras que antes eram o orgulho da organização: entre 2003 e 2010, o número de acampados passou de 59 mil famílias para cerca de 3.500.
Nos termos do vocabulário leninista que alimenta o delírio autoritário de seus líderes, é possível dizer que a "vanguarda de luta" do MST corre risco de fenecer.
Arauto de uma utopia regressiva, inimigo do agronegócio e da geração de riqueza no campo, o MST vem sendo derrotado por avanços simultâneos na economia, na sociedade e na política.
Apesar de tentativas frustradas, na década de 1990, de cooptar desempregados urbanos, a principal fonte de recrutas nunca deixou de estar no meio rural, entre os trabalhadores pobres do campo.
Para esse grupo, entretanto, a simples migração para a cidade continuou a representar alternativa mais promissora do que a adesão a uma organização semiclandestina. Entre os que permaneceram ligados à terra, contínuas conquistas sociais contribuíram para mantê-los afastados do MST.
À aposentadoria rural, que garantiu renda aos mais pobres, somaram-se, na última década, as transferências do Bolsa Família. O aumento do emprego, no campo e na cidade, ampliou-lhes a perspectiva de melhoria de vida, mas conquistada de forma autônoma, não pelos currais de esquerda.
Enfrentando dificuldades para arregimentar novos militantes, o MST se viu ainda esvaziado, paradoxalmente, pelo assentamento de famílias e pela regularização fundiária nos governos de Fernando Henrique Cardoso e de Luiz Inácio Lula da Silva.
As consequências políticas da conquista de alguma estabilidade econômica pela população mais pobre do meio rural e de sua inclusão no universo do consumo reforçaram o vínculo desses cidadãos com o status quo e os afastaram de alternativas autoritárias.
Em marcha inexorável, o movimento encolhe. Reverte ao núcleo do que nunca deixou de ser: um grupo de cristãos de esquerda adepto de ações criminosas, como invasão e destruição de propriedades, e hábil na mobilização de excluídos para exercer pressão sobre o Estado e extorquir-lhe os recursos -desapropriações e verbas- que mantêm o movimento artificialmente vivo.