Publicado em 09/06/2011José Vicente Ferraz
Publicado na Folha de S. Paulo - 09/06/2011
No dia 2 deste mês, a Rússia anunciou embargo às exportações brasileiras de carnes provenientes de três Estados (Paraná, Rio Grande do Sul e Mato Grosso) e que atingiu 85 frigoríficos.
Com a importância que as exportações brasileiras de carnes alcançaram nos últimos anos -quando passaram a representar parcela muito considerável de toda a produção-, qualquer perturbação mais acentuada nas mesmas pode trazer sérios problemas ao setor.
É que, nesse caso, os volumes que seriam destinados ao exterior acabam sendo desviados para o mercado interno. Esse excesso de oferta acaba derrubando os preços.
É fato que os resultados das exportações -exceto para a carne bovina- ainda não podem ser considerados ruins. Entretanto, se o embargo russo for mantido por tempo considerável, infelizmente os resultados tendem a piorar.
A carne de frango é a que menos preocupa. As exportações ainda registram desempenho muito bom, mesmo que se considere que, em maio, o volume embarcado de carne "in natura", por dia útil, tenha recuado em relação ao de abril.
O embargo, inclusive para o Paraná, o Estado mais importante em termos de produção, prejudica, mas não é tão significativo, visto que as exportações para a Rússia são relativamente pequenas. No caso da carne bovina, a situação é mais complicada.
As exportações totais em volume declinaram em todos os meses de 2011 quando comparadas com os mesmos meses de 2010. Com isso, já acumulam queda de quase 20% neste ano em relação ao ano passado.
Ou seja, o desempenho já é negativo, e pode piorar, se observarmos que as condições de competitividade das exportações não devem melhorar no curto prazo e também que a Rússia é importante importador do produto brasileiro.
As exportações de carne suína, mesmo considerando a abertura do mercado chinês, que, entretanto, não se sabe ainda quanto trará de resultados concretos, geram preocupações quando o maior importador do produto (mais de 40% do total), a Rússia, cria dificuldades.
É evidente que o embargo pode ser revertido no curto prazo, o que, aliás, não é nada incomum no caso russo.
Mas já é uma das causas alegadas no mercado para a queda nos preços pagos aos produtores e, especulativa ou não, pode afetar negativamente o equilíbrio no mercado interno.
Num contexto em que fatores como câmbio, crise econômica de importadores, matérias-primas caras, entre outros, não favorecem nossas exportações, o embargo pode contribuir ainda mais para ameaçar a participação no mercado internacional duramente conquistada.
*JOSÉ VICENTE FERRAZ é engenheiro-agrônomo e diretor técnico da Informa Economics FNP.