Publicado em 17/10/2018
A BRF está negociando um acordo de leniência com o Ministério Público Federal (MPF) e o Ministério da Transparência e Controladoria-Geral da União (CGU). O pedido da empresa foi apresentado ao órgão há algumas semanas e as equipes de negociação estão sendo montadas, apurou o Valor.
Dentro de um contexto de reforçar o compliance da companhia, a iniciativa faz parte das determinações do próprio presidente da BRF, Pedro Parente, para que a empresa "vire uma página" e forneça todas as informações que venham a ser solicitadas por órgãos de controle no sentido de passar a limpo o passado suspeito da empresa.
Segundo o Valor apurou, a BRF pretende detalhar, entre outras coisas, o funcionamento de um esquema de pagamento de propinas para fiscais do Ministério da Agricultura, em troca de facilitar seus mercados interno e externo de carnes.
Entre as possíveis colaborações, a companhia deve relatar como atuava junto à Pasta da Agricultura para acelerar a tramitação de processos como habilitação e renovação de seus frigoríficos e conseguir a edição de normas e portarias que a beneficiassem principalmente em suas exportações.
De acordo com as investigações da Polícia Federal, a empresa até articulava com o governo quais os fiscais atuariam em suas plantas.
Abalada por uma recente crise que passou por disputas societárias, problemas de endividamento e importantes mercados internacionais fechados para os seus produtos como União Europeia e Rússia, a empresa manifestou interesse em colaborar em relação a todas as supostas irregularidades apontadas pela PF nas operações Carne Fraca, que revelou em 2017 um esquema de corrupção entre frigoríficos de e fiscais federais, e Trapaça. Esta última foi deflagrada em março deste ano e investiga um esquema de fraudes envolvendo laboratórios e a empresa na análise de salmonela em cargas de frango destinadas à exportação.
No caso da CGU, a negociação está em fase inicial e não há prazo para o fechamento de um acordo. A depender dos relatos da empresa, será definido o valor da multa a ser aplicada. Com o acordo, a BRF evitaria a declaração de inidoneidade pela CGU. Essa condenação é mais sensível para empreiteiras, mas também pode afetar grandes exportadores, caso da BRF. Além disso, a dona da Sadia e da Perdigão possui muitos contratos de financiamentos com bancos públicos (linhas de crédito rural).
Procurada pelo Valor, a BRF disse que não vai comentar o assunto e se limitou a dizer que "a posição da empresa é de colaborar com as autoridades num diálogo amplo e transparente". Com informações do Valor.