Publicado em 02/05/2018Adriano Garcia
Editor do Pecuária.com.br
Na semana que passou, o Pecuária.com.br concluiu que um provedor brasileiro levou o acesso a dados pessoais um passo adiante: a Locaweb, um dos principais data centers nacionais, bloqueia a entrega de e-mails para seus clientes com base no conteúdo destes. E o pior: sem dar a seus clientes – pagantes – a opção de escolher quais mensagens desejam receber.
Se você não conhece o nome Locaweb, esclarecemos que eles também são responsáveis pelo fornecimento de e-mail para todos os clientes da Globo.com.
O caso começou quando, na semana do dia 19 de abril, o Pecuária.com.br recebeu queixas de assinantes do boletim “Notícias da Pecuária”, que não estariam recebendo em seus e-mails a edição diária. Ao analisar a questão, nossa equipe constatou que todas as reclamações tinham um ponto em comum: endereços de empresas hospedadas pela Locaweb ou e-mails da Globo.com.
O bloqueio descoberto tinha características específicas: não afetava todos os e-mails, somente os boletins informativos que distribuímos.
Entramos em contato com a empresa cuja representante, Jenifer Oliveira, em um primeiro momento, nos acusou de enviar mensagens não-solicitadas a seus assinantes, o que, absolutamente, não é verdade. Todos os cadastrados no boletim “Notícias da Pecuária” são assinantes, optaram por fazer parte da lista e têm liberdade para sair dela, com apenas um clique. Argumentamos que o bloqueio era somente em relação ao boletim de notícias, não afetava outros tipos de e-mail.
Ademais, a atitude normal de provedores com relação a mensagens suspeitas de ser spam/lixo eletrônico é separá-las em uma pasta específica nas contas de e-mail dos usuários e deixar que estes revejam e desmarquem estas mensagens, para que voltem à caixa de entrada. A Locaweb não disponibiliza esta seleção para as mensagens bloqueadas, que são devolvidas aos remetentes.
A representante da Locaweb pediu que nos cadastrássemos em seu sistema anti-spam, que permitiria que seus usuários manifestassem seu eventual desinteresse na assinatura do boletim. Após a nossa confirmação de cadastramento, o provedor permitiu a entrega do noticiário a seus clientes por aproximadamente 2 dias, durante os quais nenhuma queixa foi recebida.
Ao final do segundo dia o bloqueio retornou. E aí veio a surpresa: Jenifer confirmou, em nova mensagem, que a Locaweb bloqueia a entrega de e-mails a seus clientes baseada na análise de seu conteúdo, ou seja, a empresa decide quais e-mails serão efetivamente entregues a seus usuários e exige que obedeçamos às suas regras para que ela dê a seus clientes o direito de receber o “Notícias da Pecuária”.
Quais regras? O documento apontado cita desde a quantidade e forma da publicação de imagens até como devem ser seus assuntos. Lista também comandos HTML “proibidos” pela empresa.
Mesmo um boletim de mercado distribuído por nós desde 2005 e com assinantes nos mais diversos provedores deve se sujeitar às exigências específicas deles para que possa ter a possibilidade de ser distribuído, já que a Locaweb não oferece quaisquer garantias de entrega, mesmo se suas regras forem observadas.
E mais: ao realizar a devolução dos e-mails a empresa usa uma mensagem de erro “bounce”. Este erro, normalmente, indica que o endereço de e-mail destinatário não existe, o que leva ao descadastramento permanente do assinante em sistemas automatizados. É o bloqueio definitivo da circulação das informações.
Com a adoção de políticas como as descritas acima por seus representantes acreditamos que, na verdade, a Locaweb deseja ditar o conteúdo e a forma dos e-mails destinados a seus usuários. Quem é cliente da empresa não pode assinar boletins informativos que não estejam de acordo com as diretrizes ocultas da empresa. Não há direito de escolha: o cliente jamais receberá as mensagens, que são bloqueadas antes de serem entregues.
Vivemos em uma época em que as empresas de internet são cada vez mais questionadas por restringir a circulação de opiniões políticas divergentes. Recentemente, em audiência no Congresso dos Estados Unidos, o fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, teve de responder a perguntas duras de parlamentares sobre a censura feita a páginas cujo conteúdo divergia do posicionamento político da maioria dos funcionários da rede social.
A atitude da Locaweb é como se um carteiro abrisse todas as correspondências e decidisse de forma arbitrária quais cartas deveriam ser entregues.
A isso só pode ser dado um único nome: censura.
Consultada por escrito, a assessoria de imprensa da Locaweb não se manifestou até a conclusão desta matéria.
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