Publicado em 06/04/2018Descontente com as respostas dadas pelo Ministério da Agricultura em relação à Operação Trapaça, a União Europeia já sinalizou ao governo brasileiro que se prepara para barrar de maneira definitiva todas as importações de carne de frango da BRF, apurou o Valor. A situação mobilizou o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, que irá para Bruxelas, neste fim de semana, para tentar evitar o embargo definitivo à empresa.
A BRF não deve ser a única prejudicada. Considerada "drástica" por técnicos do serviço sanitário brasileiro, a medida também pode atingir um abatedouro da Seara, da JBS, além de frigoríficos de cooperativas. Fábricas de mel, unidades produtoras de pescados e de carne bovina também podem ser atingidas pela barreira, disse uma fonte.
No setor privado, há quem acredite que o embargo definitivo europeu pode ser mais ameno. "Não se sabe se eles vão vetar somente as três fábricas da BRF", disse outra fonte, citando os frigoríficos da empresa em Mineiros (GO), Rio Verde (GO) e Carambeí (PR). Irregularidades nas três unidades são investigadas na Operação Trapaça, que apura suposta fraude nas análises de salmonela em frango, envolvendo a BRF e laboratórios.
Ainda que fique restrito às três unidades, o embargo definitivo tem um peso grande. Para reabilitar as unidades para a exportação, o Ministério da Agricultura levaria mais de um ano. Assim, a BRF perderia espaço em um mercado que paga preços mais elevados.
Na União Europeia, a ideia é que o Comitê Permanente de Controle de Plantas, Animais, Alimentos e Condições de Importação da Comissão Europeia coloque em votação essas possíveis barreiras às carnes brasileiras já em suas próximas reuniões, marcadas para os dias 18 e 19 de abril.
Mas as unidades da BRF podem ser "deslistadas" antes disso, segundo informações de importadores europeus. Por esse motivo, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, irá às pressas a Bruxelas, já neste sábado, na tentativa de evitar que o bloco europeu adote a sanção. "Já pedi uma audiência com os europeus e estou indo este fim de semana para Bruxelas, mas não tenho como antecipar qualquer conversa", disse o ministro ontem em cerimônia para comemorar o status de país livre de febre aftosa com vacinação.
"Nosso serviço sanitário esteve há duas semanas por lá esclarecendo que as investigações da Operação Trapaça são anteriores à Carne Fraca", acrescentou.
Maggi comentou a interlocutores que está disposto a ficar em Bruxelas até que seja recebido pelas autoridades e consiga avançar nas negociações. Para fontes do governo, os europeus aproveitam o momento para adotar medidas protecionistas. "Poderiam suspender e somente voltar a comprar quando tivessem certeza de que tudo estaria novamente sob controle", disse uma fonte.
Procurados, o Ministério da Agricultura e a BRF não quiseram comentar. A JBS afirmou não ter recebido qualquer informação sobre embargo do bloco europeu. Com informações do Valor.