Publicado em 13/11/2017A Cooperativa Central dos Produtores Rurais de Minas Gerais Ltda (CCPR) está recorrendo ao governo de Minas Gerais para tentar levar adiante seus planos de voltar a ser dona de 100% do laticínio Itambé. A empresa pediu um financiamento ao Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) para a operação de recompra de 50% da Itambé. Essa fatia, que custará R$ 600 milhões à CCPR, havia sido vendida para a Vigor, controlada pela J&F, em 2013, por R$ 410 milhões, e hoje está nas mãos da mexicana Lala.
"O BDMG está analisando a possibilidade de concessão de empréstimo para essa operação da CCPR", disse ao Valor o presidente do banco público, Marco Aurélio Crocco. Segundo ele, o BDMG é uma das fontes de capital a qual a cooperativa recorre. "O banco não dará o total de recursos necessários", disse. "A informação que eu tenho é que está sendo montado um sindicato de bancos para essa operação, que outros estão sendo chamados."
O valor total da operação de recompra de 50% da Itambé envolve um montante de R$ 600 milhões. "Dificilmente um banco no Brasil participaria sozinho disso", afirmou Crocco. Ele não revelou que outros bancos estão em conversas com a CCPR.
Em outubro, o Valor informou que o mineiro Banco Mercantil do Brasil faria parte de um consórcio para emprestar à CCPR. Procurado, o banco não se pronunciou.
Apesar das dificuldades financeiras por que passa Minas Gerais – que leva a pagamentos parcelados dos salários de parte dos servidores e a investimentos reduzidos -, o BDMG tem sido mantido como braço de investimento para empresas de Minas.
O governo fez recentemente um aporte de R$ 100 milhões no caixa do banco e não tem aberto mão de receber dividendos.
A assessoria do governador Fernando Pimentel afirmou à reportagem que está procurando ajudar a cooperativa por meio do BDMG.
Embora fontes do setor de lácteos afirmem que a Codemig, companhia pública que é dona de uma série de ativos em Minas Gerais, também fará parte da operação com a compra de participação na Itambé, não há, segundo a assessoria do governo estadual, conversas envolvendo a empresa de participações.
Conforme as mesmas fontes, a CCPR também teria conversado com o BNDESPar, braço de participações do BNDES. Procurado, o banco de fomento não comentou.
A direção da CCPR também foi questionada sobre as eventuais fontes de financiamento da operação, mas não se pronunciou.
Inicialmente, o Banco do Brasil estava à frente de um pool de bancos que iria financiar ou buscar investidores para a CCPR recomprar a participação da Vigor na Itambé. Mas o BB saiu da transação em razão do prazo curto para levantar os recursos necessários para a operação.
A CCPR anunciou que iria exercer o direito de preferência e recomprar a participação da Vigor na Itambé no dia 20 de setembro, um mês e meio depois de a Vigor ter sido vendida à mexicana Lala, por R$ 5,725 bilhões. O valor da transação incluía também a compra de até 100% da Itambé, isto é, contemplava a participação de 50% da CCPR na empresa. A possibilidade de recompra da participação pela central de cooperativas estava prevista no acordo de acionistas em caso de venda da Vigor.
A CCPR tinha até 20 de outubro para pagar pela participação adicional, do contrário ficaria sujeita a uma multa de R$ 200 milhões. Mas no dia 16 de outubro, a central protocolou Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) documentos relativos à aquisição da fatia de 50% que a Vigor tinha na Itambé. Não há concentração no negócio, mas a CCPR recorreu ao expediente, segundo uma fonte, para ter mais tempo para buscar recursos. Normalmente, a apreciação de operações como a envolvendo a CCPR e a Itambé leva entre 30 e 45 dias.
Embora a CCPR tenha optado por comprar os 50% que pertenciam à sócia na Itambé, ao concluir a operação, no dia 26 de outubro, a Lala pagou à controladora J&F R$ 5,025 bilhões, referentes à aquisição de 99,9% das ações da Vigor Alimentos e aos 50% das ações da Itambé. Assim, agora, a CCPR terá de pagar à Lala os R$ 600 milhões referentes aos 50% na Itambé. Com informações do Valor.