Publicado em 15/09/2017Diante do revés sofrido pelos irmãos Joesley e Wesley Batista, ambos presos nesta semana, bancos de investimento começaram a se movimentar para buscar interessados na JBS. Embora ofertas pelo controle não sejam totalmente descartadas, executivos de bancos disseram ao Valor que o mais provável seria algum tipo de associação com o frigorífico ou proposta por algum ativo específico. Até o momento, a empresa é considerada intocável pela família, mas há quem aposte que os Batista podem reavaliar a posição, a depender da pressão sobre o grupo.
A interlocutores, os dois irmãos vinham descartando enfaticamente a possibilidade de vender a JBS agora ou futuramente e afirmavam manter o plano de abrir o capital nos Estados Unidos em 2018. Tanto Joesley quando Wesley acreditavam que conservavam condições de seguir fazendo negócios no Brasil, a despeito de sua reputação ter saído comprometida depois de confessarem crimes de corrupção e fecharem a delação.
"Até semana passada eles queriam ficar abraçados na JBS", diz um banqueiro de investimentos.
Se tiver dificuldade de acessar dinheiro novo, a família pode concordar com algum tipo de negociação e, no limite, até vender o controle. Um banqueiro de investimento pondera que vender a empresa e ficar com muita liquidez não interessa aos Batista, por causa do risco de arresto de dinheiro em eventuais disputas judiciais.
Se por um lado o acesso a crédito novo se complicou para a JBS, um graduado executivo de um banco credor diz que dificilmente haverá problemas com a dívida já renegociada. O acordo de renegociação é condicionado à validade do acordo de leniência da holding controladora da JBS, a J&F. "Mas mesmo que a leniência caia, não é interesse dos bancos acelerar a dívida e romper o acordo. O interesse é continuar recebendo e não sufocar a empresa e levá-la a uma recuperação judicial", afirma.
Até o momento, não existem negociações. Bancos de investimento estão prospectando potenciais interessados, na busca por mandatos. Há conversas com fundos soberanos asiáticos, e as gigantes de alimentos americanas, como Tyson Foods, sempre foram vistas como candidatas naturais a adquirir o controle da JBS. Com a admissão de tantos crimes e outros ainda sob investigação, ficou mais complicado para as americanas, que têm regras de compliance muito rigorosas, avalia um outro banqueiro de investimentos, que tem mantido conversas preliminares com potenciais interessados.
O plano dos Batista, que vinha sendo executado à perfeição, era vender os demais ativos do grupo e até alguns pontuais do frigorífico, fazer caixa, liquidar dívidas e ganhar fôlego para manter a JBS. Embora tenha fechado diversas vendas, a maior parte delas ainda não foi sacramentada e os pagamentos não foram efetuados.
As vendas de Vigor para a mexicana Lala e de Eldorado para a indonésia Paper Excellence estão condicionadas à homologação judicial do acordo de leniência fechado pela holding J&F. A venda da Alpargatas para Itausa e Cambuhy não tem essa condição precedente, mas também não foi fechada ainda. Há muitas dúvidas sobre a manutenção ou não da leniência neste momento. O acordo foi homologado pelo Ministério Público Federal, mas ainda não o foi pela Justiça. Está previsto na leniência que ela poderia ser rescindida caso a delação premiada fosse anulada. A redação da cláusula que trata disso é vaga e dá margem a diversas interpretações, gerando apreensão entre vendedor e compradores.
Em nota, a JBS diz que "não há nenhuma negociação envolvendo seu controle e reitera que não negocia a venda de quaisquer ativos além dos já anunciados em Fato Relevante com data de 20 de junho de 2017 e que tem por objetivo a desalavancagem e o fortalecimento de sua estrutura financeira." Com informações do Valor.