Publicado em 22/05/2017Desde a divulgação de detalhes sobre as relações entre os principais políticos brasileiros e os irmãos Joesley e Wesley Batista, donos do grupo de empresas que inclui a JBS, muita gente especula que a delação premiada dos empresários seria uma estratégia para "limpar a barra" da companhia nos Estados Unidos.
Isso porque os donos da maior produtora de carne do planeta estão preparando um IPO (sigla em inglês para Oferta Pública Inicial de ações) bilionário na bolsa de valores de Nova York.
Com 65 frigoríficos espalhados pelos Estados Unidos, a JBS já é líder nas vendas de carne bovina, ovina e de frango no país e pretende expandir ainda mais sua atuação, com a subsidiária JBS Foods International.
Para alguns, a delação que culminou na autorização de uma investigação contra o presidente Michel Temer pelo Supremo Tribunal Federal seria uma forma de transmitir "transparência" e mostrar ao Departamento de Justiça americano que a empresa estaria disposta a deixar gestos de corrupção no passado. Nos Estados Unidos, entretanto, a leitura pode ser diferente.
Para Shannon O'Neil, pesquisadora sênior do "think-tank" Council of Foreign Relations (CFR), que edita a revista "Foreign Affairs", a oferta de ações da empresa em Nova York pode ficar comprometida - mesmo com a delação em Brasília.
"Mesmo que a delação mostre que os líderes da JBS estão cooperando com a Justiça, o fato de eles estarem envolvidos (em um escândalo de corrupção) torna tudo mais difícil", disse O' Neil à BBC Brasil em Nova York. "Especialmente no caso dos investidores americanos, que podem não conhecer os meandros da política brasileira. Eles devem manter distância."
Corrupção
Procurada insistentemente pela reportagem ao longo da semana, a sede da JBS nos Estados Unidos disse que não comentaria o caso, nem respondeu sobre o IPO na bolsa de Nova York.
A preocupação da empresa com a repercussão internacional do caso pode ser percebida em um trecho de uma carta pública de desculpas, divulgada pelos irmãos na última quinta-feira, após a eclosão do escândalo.
"Em outros países fora do Brasil, fomos capazes de expandir nossos negócios sem transgredir valores éticos", ressalta Joesley Batista no texto, mirando o mercado estrangeiro.
Para O' Neil, o problema começa em terras brasileiras. "Ter seu nome ou o nome da sua empresa associados a potenciais vereditos de corrupção nunca é algo bom para quem está querendo entrar em um novo mercado", afirmou.
"O Departamento de Justiça vai acompanhar o caso de perto. Se eles porventura tiverem violado algo na Lei Americana Anti-Corrupção no Exterior (FCPA, na sigla em inglês), eles podem ser investigados e processados por aqui", afirmou a analista.
Autoridades brasileiras apuram supostas irregularidades no financiamento das compras pela JBS das empresas Swift, National Beef e Pilgrim's Pride, todas nos Estados Unidos.
Antes da eclosão das denúncias do acordo de delação premiada, na última quarta-feira, a JBS havia sido alvo de quatro operações da Polícia Federal entre julho de 2016 e março de 2017.
A oferta pública inicial de ações (IPO) nos Estados Unidos, inicialmente prevista para o primeiro semestre deste ano, foi adiada para o segundo semestre. Com informações do UOL.