Publicado em 10/02/2017As primeiras estimativas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para as culturas de segunda safra nesta temporada 2016/17 confirmaram as expectativas e sinalizaram que de fato haverá um forte incremento da oferta de milho no país a partir do segundo semestre. Ainda que o aumento deva causar efeitos negativos sobre a rentabilidade dos produtores, é o que esperavam a cadeia produtiva de aves e suínos - cujos custos tendem a cair se o cenário se confirmar - e o governo - pelos reflexos positivos sobre a inflação.
Conforme projeções divulgadas ontem pela autarquia, a safrinha de milho tende a alcançar o recorde de 58,6 milhões de toneladas neste ciclo, 44% mais que em 2015/16. O salto é fruto de um avanço de 4,7% da área plantada, que deverá chegar a 11 milhões de hectares, e, sobretudo, de uma expectativa de ganho de produtividade que se aproxima de 38% (5.310 quilos por hectare), em virtude de condições climáticas favoráveis. Em 2015/16, adversidades provocadas pelo fenômeno El Niño, devastaram a safrinha brasileira.
Se a Conab estiver correta sobre a safrinha que está sendo plantada e sobre a colheita do plantio de verão, que está em curso e deverá atingir 28,8 milhões de toneladas, a produção total de milho deverá somar 87,4 milhões de toneladas em 2016/17, um avanço de 31,4% sobre o ciclo passado - de longe o maior percentual de aumento entre os principais grãos semeados no país. Mas, para a produção de grãos no país na atual temporada, um recorde agora estimado pela Conab em 219,1 milhões de toneladas (17,4% mais que em 2015/16) e pelo IBGE em 221,4 milhões, também pesam incrementos projetados para a soja e para itens básicos como arroz e feijão.
Para a soja, carro-chefe do agronegócio brasileiro, a Conab elevou sua previsão para 105,6 milhões de toneladas, volume recorde 10,6% superior ao apurado na safra 2015/16; no caso do arroz, a alta estimada é de 11,9%, para 11,9 milhões de toneladas, e para o feijão chega a 30,4%, para 3,3 milhões. Tanto a soja, mas sobretudo arroz e feijão, também sofreram com o clima no ciclo passado - daí os elevados percentuais de avanço previstos agora. Diante desses novos e expressivos números Neri Geller, secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, confirmou que o governo vê o cenário com satisfação do ponto de vista do abastecimento e da inflação, mas entende que é preciso atenção com eventuais quedas bruscas de preços.
Em condições "normais", contudo, a receita bruta dessa produção maior de grãos, deverá crescer. Conforme a Conab, algodão, arroz, feijão, milho e soja deverão gerar uma receita conjunta de R$ 188,4 bilhões em 2017, 13,2% mais que no ano passado. Vale reforçar que essas "condições normais" já embutem preços médios mais baixos para feijão e soja. Para algodão, arroz e milho a autarquia projeta altas em relação às médias do ano passado.
Análise divulgada pelo banco Pine pondera, também, que a safra ainda não está livre de sofrer com intempéries, ainda que, até agora, o clima esteja se comportando muito bem. Dentre esses riscos, o texto assinado pelo analista Lucas Brunetti destaca a possibilidade de excesso de chuvas ou proliferação de pragas no fim da colheita e transtornos provocados por gargalos de armazenagem ou na área logística.
Na contramão da tendência geral de aumento da produção está o trigo. Em sua primeira estimativa para o cereal na temporada 2016/17, a Conab projetou a colheita em 5,6 milhões de toneladas, 16% abaixo do ciclo passado, por conta da queda da produtividade nas lavouras. Com informações do Valor.