Publicado em 07/12/2016Alternativa da JBS à reorganização societária vetada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a abertura do capital da subsidiária JBS Foods International na bolsa de Nova York provocou euforia no mercado ontem.
O anúncio, feito na segunda-feira, fez as ações da JBS subirem 19,07% na BM&FBovespa, encerrando o pregão de ontem a R$ 11,05. Foi a maior valorização entre os papéis que compõem Ibovespa. Na prática, as ações da companhia voltaram ao patamar que haviam alcançado antes do veto do BNDES, no fim de outubro. Apenas ontem, o valor de mercado da JBS aumentou mais de R$ 5 bilhões, passando de R$ 26,5 bilhões para R$ 31,6 bilhões.
Em teleconferência com analistas, o CEO global da JBS, Wesley Batista, disse que o IPO da JBS Foods trará "benefícios similares" aos da reorganização societária proposta anteriormente. Entre os benefícios, citou a redução do custo de capital e o maior acesso aos mercados de capital e dívida.
O empresário também se mostrou satisfeito com a alternativa encontrada. "Acreditamos que esse é um caminho que tem excelentes méritos e que possibilita à companhia capturar os benefícios da reorganização anterior, com uma estrutura relativamente mais simples e clean", disse.
Contrário à reorganização societária originalmente apresentada pela JBS, o BNDES gostou da nova proposta. "O modelo apresentado, além de manter o controle dos negócios no país, indica o respeito aos direitos dos acionistas minoritários e ainda persegue o acesso à poupança externa para impulsionar os negócios diversificados da empresa", informou a BNDESPar, o braço de participações do banco estatal, em nota ontem. A BNDESPar tem 20,36% das ações da JBS.
De fato, o banco estatal nem poderia impedir a operação. Pelos termos do acordo de acionistas entre a família Batista e a BNDESPar, a JBS pode alienar ativos que equivalham a até 10% do valor contábil dos ativos da controladora. Em 30 de setembro, o valor total dos ativos da controladora era de R$ 54,7 bilhões, e 10% disso é R$ 5,4 bilhões.
No pedido de registro do IPO protocolado na Securities and Exchange Commission (SEC), órgão que regula o mercado de capitais dos EUA, a JBS informou quer o valor pro forma do patrimônio líquido da JBS Foods International é de apenas R$ 694,5 milhões. Esse valor é baixo porque a JBS vai transferir dívidas da JBS S.A para a sua subsidiária.
Na prática, o limite de 10% não terá influência na emissão de ação, uma vez que é comum que o valor de mercado de uma empresa seja superior a seu valor contábil, o que deve ser o caso da JBS Foods International, que vai reunir todos os ativos da empresa, com a exceção do negócio de bovinos no Brasil. A receita líquida pro forma da subsidiária no ano passado foi de R$ 136,2 bilhões, o que significa mais de 80% das receitas da JBS.
Diferentemente da proposta original, o IPO da JBS Foods International trará recursos para a subsidiária. Batista não revelou, no entanto, quanto pretende levantar com a oferta primária de ações na bolsa de Nova York. O empresário também não detalhou a fatia da JBS Foods International que pretende alienar.
Os recursos do IPO vão permitir "acelerar" o processo de redução de alavancagem da JBS, destacou Batista. Em novembro, o empresário já havia dito que o foco da companhia em 2017 seria gerar caixa para reduzir a alavancagem, que chegou a 4,32 vezes no fim de setembro. A intenção da empresa era fazer esse índice cair para algo ao redor de 3 vezes até dezembro de 2017. Com o IPO, isso ocorrerá antes. A expectativa da JBS é que a abertura de capital da subsidiária aconteça no primeiro semestre.
De acordo com Batista, a totalidade dos recursos que será obtida com o IPO será usada para pagar dívidas. No primeiro momento, explicou, o índice de alavancagem da JBS Foods International será superior ao da JBS, porque as dívidas serão transferidas. Com o recebimento dos recursos do IPO, o nível da alavancagem da controladora e de sua subsidiária será equalizado, explicou o empresário.
Para transferir as dívidas para a subsidiária, a JBS precisa do aval dos bondholders, o que tende a ser fácil. Na reorganização anterior, a empresa já havia obtido aprovação similar.
Com a subsidiária listada em Nova York, a JBS também verá sua capacidade de alavancagem financeira reforçada. Isso será possível porque que a JBS Foods International terá duas classes de ações: A, que efetivamente será negociadas na bolsa; e B, que será detida pela JBS (ver organograma). Cada ação da classe B equivale a dez votos da classe A. Isso significa que a JBS Foods International poderá, futuramente, emitir mair ações (classe A) para financiar a expansão sem colocar em risco o controle da companhia brasileira.
Com tal modelo, em tese, a JBS pode manter o controle sobre a subsidiária internacional mesmo se ficar com apenas 9,1% do capital total, desde que com classe B. A empresa listada em Nova York terá flexibilidade financeira similar à de uma companhia de capital pulverizado, pois adotou uma estrutura de controle muito semelhante à usada pelo Google. Com informações do Valor.