Publicado em 25/10/2016A política comercial europeia ficou desarticulada depois que o governo da Bélgica disse que não conseguirá contornar as objeções de um parlamento regional ao acordo comercial entre a União Europeia (UE) e o Canadá, apesar das semanas de negociações em que se tentou salvar o acordo.
O chamado pacto Ceta (Acordo Abrangente de Economia e Comércio) está à beira do colapso por causa das objeções antiglobalização da Valônia, uma região belga com 3,5 milhões de habitantes onde o francês é o idioma predominante e que fica não muito distante de Bruxelas.
Analistas dizem que o poder de uma pequena região de um país da UE de frustrar um acordo em nome dos 500 milhões de habitantes do bloco é um mau presságio para outras negociações comerciais da União Europeia, inclusive o acordo com o Reino Unido pós-Brexit.
O acordo da UE com o Canadá precisa ser aprovado por todos os 28 países-membros antes de entrar em vigor. Charles Michel, o premiê belga, apoia o acordo, mas disse ontem que não poderá assiná-lo porque o Parlamento local da Valônia votou contra ele.
O pacto Ceta era para ser assinado nesta quinta-feira em Bruxelas, em uma cerimônia planejada há muito tempo. Justin Trudeau, o primeiro-ministro do Canadá, e Donald Tusk, presidente do Conselho Europeu, decidiram, em um telefonema de emergência, prosseguir com os esforços para tentar salvar o acordo.
"Acreditamos ainda ser possível uma reunião na quinta-feira. Encorajamos todas as partes a encontrar uma solução. Ainda há tempo", disse Tusk no Twitter.
O caso humilhou os líderes da UE, que tinham a esperança de que o acordo de "nova geração" com o Canadá estabeleceria uma referência para o mundo e pavimentaria o caminho para um acordo comercial ainda maior com os EUA.
"A política comercial da UE não sobreviverá num mundo em que os acordos comerciais precisam ser 'democratizados' por todos os Parlamentos nacionais e sub-legislaturas da União Europeia antes de vigorarem", disse Peter Mandelson, o ex-comissário do Comércio da UE. "Isso é uma punhalada no coração da política comercial europeia, que precisa retornar para a competência exclusiva da UE."
John Clancy, consultor sênior da FTI Consulting de Bruxelas, disse que a credibilidade da União Europeia foi abalada pelo "exibicionismo político" do Parlamento da Valônia. "Os possíveis impactos negativos são enormes, incluindo é claro para um futuro acordo comercial entre a UE e o Reino Unido após o Brexit", acrescentou ele.
Os esforços para aplacar os valões continuam, mas as autoridades não estão otimistas depois de muitas rodadas de negociações sem resultados. "Todo mundo fez o possível para tentar atender os valões. Mas a essa altura, a política vence o comércio", disse uma autoridade comercial de outro Estado membro da UE. Com informações do Valor.