Publicado em 19/10/2016Depois de bater no fundo do poço no segundo trimestre, a economia brasileira começou a dar sinais – tímidos e lentos – de que uma retomada ganhará força a partir dos próximos meses e, principalmente, em 2017. Essa é a avaliação do presidente global da JBS, Wesley Batista. Em entrevista a jornalistas no Salão Internacional de Alimentação (Sial), em Paris, o empresário que comanda a maior empresa privada não financeira do Brasil se mostrou satisfeito com a direção das medidas sinalizadas pelo governo de Michel Temer, com foco nas áreas fiscal, previdenciária e trabalhista.
"A agenda do governo está correta. Se não tirar o foco e [continuar] no caminho que está indo, estamos otimistas. Se o governo Temer conseguir as reformas que estão na agenda para serem feitas, vai ser um legado extraordinário", disse. De acordo com Batista, Temer provavelmente não verá os resultados das reformas durante o mandato, mas o país colherá os frutos delas.
Apesar de demonstrar otimismo, o presidente da JBS admitiu que as reformas enfrentarão resistências. "Dificuldade para fazer reforma sempre existiu em qualquer lugar do mundo". No entanto, ele insistiu na necessidade das mudanças. "O Brasil não pode mais conviver, por exemplo, com uma instabilidade trabalhista como está vivendo. É impossível", argumentou Batista, citando disparidades entre Brasil e EUA.
Enquanto nos EUA a JBS conta com uma equipe jurídica de cinco funcionários e pouco mais de 30 processos judiciais, no Brasil o corpo jurídico da companhia é de cerca de 100 pessoas. "Nem vou [detalhar] o número de processos em carteira. São milhares", disse.
Embora considere que a reforma trabalhista é crucial para a empresa controlada por sua família, Batista reconheceu que, na ordem de prioridades, as reformas fiscal e previdenciária estão na frente. "Não dá para fazer tudo ao mesmo tempo. Isso é uma realidade". Ainda assim, ele demonstra otimismo.
No cronograma imaginado pelo empresário, o governo Temer concluiria a reforma fiscal e a previdenciária até o primeiro semestre de 2017. Na segunda metade do ano que vem, seria a vez da reforma trabalhista. "E ainda sobra 2018 para fazer alguma coisa de reforma tributária", animou-se, mesmo quando questionado sobre o desafio de aprovar reforma em ano eleitoral.
Concomitante à agenda de reformas, Batista disse já enxergar sinais de retomada também na confiança do consumidor. "Acho que o medo da perda de emprego está diminuindo", avaliou. Com isso, há mais previsibilidade inclusive para a retomada das compras a prazo. Nesse sentido, a presidente da JBS Foods – que reúne as operações da Seara -, Juanita Karoleski, chegou a dizer na segunda-feira, em Paris, que os supermercados parecem mais dispostos a ampliar estoques.
Embora tenha sugerido que a reversão das expectativas no país está relacionada à troca de governo – especialmente porque a gestão da ex-presidente Dilma Rousseff chegou a um ponto "insustentável" devido à fragilidade de sua base de apoio para aprovar as reformas necessárias -, o empresário avaliou que o impeachment foi "péssimo" para o país. "Qualquer processo como esse é ruim para qualquer país. Nenhum processo de impeachment é bom".
Por outro lado, Wesley Batista disse não ter opinião formada sobre o mérito da decisão que afastou Dilma do cargo. "Se eu opinar, estarei sendo leviano com um lado e com o outro". De acordo com ele, como não fez uma avaliação detida sobre o processo, não poderia emitir um juízo fundamentado.
Na opinião dele, aliás, a proliferação de opiniões sem embasamento é um dos grandes problemas do Brasil. "As pessoas precisam ter mais comprometimento com a opinião [...] Ouço muita gente que opina sem o mínimo de conhecimento", criticou Batista.
Durante a entrevista, Batista também demonstrou contrariedade com o apoio explícito da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) ao afastamento de Dilma. "Não é coisa para entidade de classe. Isso é coisa para entidade popular, para o cidadão". Na visão do empresário, as entidades de classe devem ter lado nos debates sobre as reformas econômicas, mas não nas disputas partidárias. "Muitas entidades não representam mais o setor. [...] Entidade não é para representar partido político", disparou.
Questionado sobre os investimentos da BNDESPar, braço de participações do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), na JBS, Batista fez questão de se afastar do rótulo de campeão nacional escolhido pelo PT.
Na avaliação do empresário, as críticas ao investimento feito pelo BNDES não têm fundamento. "Quem se deu ao mínimo de trabalho e analisar e estudar, verá que é uma lenda urbana ridícula", disse. Na indústria de carne bovina, argumentou, a JBS não foi a única empresa que recebeu aportes do banco estatal. "O banco investiu nas quatro principais empresas da época porque acreditou na competitividade brasileira na produção de proteína", disse ele.
Ainda sobre o BNDES, Batista ressaltou que a JBS não recebeu empréstimos a juros subsidiados do banco. Os investimentos se deram na forma de compra de participação acionários. Hoje, a BNDESPar detém 20,4% das ações da empresa. "O banco fez um negócio conosco. Comprou com a intenção de ganhar dinheiro e ter lucro. Ele não foi Papel Noel", afirmou Batista.
Por fim, o empresário também fez considerações sobre a Operação Greenfield, na qual foi levado a depor coercitivamente para falar aportes dos fundos de pensão Funcef e Petros na Eldorado Celulose, empresa do grupo J&F, a holding da família Batista que controla a JBS e outras empresas, como Vigor e Eldorado.
"Os fundos investiram e têm um belo resultado. É um negócio que está dando lucro para os fundos", destacou, assegurando não haver irregularidades nos investimentos na Eldorado. "Não teve nada de errado. É um negócio honesto, que gera riqueza". Batista admitiu que o caso, que chegou a provocar seu afastamento temporário do comando da JBS, não foi agradável. "Por outro lado, quando você não deve, é rápido. Você vai lá e explica", resumiu. Com informações do Valor.