Publicado em 28/04/2016A estratégia de hedge cambial da Minerva Foods, terceira maior empresa de carne bovina do país, chamou a atenção de analistas ontem e ofuscou o melhor desempenho operacional registrado pela companhia no primeiro trimestre. Em meio a dúvidas sobre a política de hedge, as ações da Minerva encerraram o pregão de ontem cotadas a R$ 11,01, queda de 1,2%.
Durante teleconferência, o analista do Itaú BBA, Antonio Barreto, demonstrou surpresa com o "tamanho" das perdas que a Minerva registrou com os instrumentos para proteção cambial. No primeiro trimestre, a perda foi de R$ 246,8 milhões. O Itaú BBA estimava que a perda seria R$ 100 milhões menor.
A surpresa do analista estava ancorara no entendimento de que a política de hedge não ultrapassava uma posição superior a 30% da exposição líquida da empresa ao dólar. Em resposta, o diretor financeiro da Minerva, Edison Ticle, argumentou que não é essa a política da companhia. "Ninguém nunca se comprometeu a ter 30% ou 40%. Chegamos a 'hedgear' 85% [da dívida líquida em moeda estrangeira]". Além disso, Ticle disse que os analistas devem levar em conta o custo para carregar as posições de hedge - que, segundo ele, é de 1,2% ao mês, ou cerca de 12% ao ano.
Em vigor desde 2009, a política de hedge cambial da Minerva tem duas pernas. No curto prazo, a empresa usa instrumentos de hedge (operações de dólar futuro na BM&F e derivativos de balcão como as NDFs, entre outros) para proteger o fluxo de moedas oriundo das exportações, especialmente. É o chamado "hedge de fluxo". Na prática, quando a Minerva fecha uma exportação, a empresa está "comprada" em dólares. Para travar sua margem operacional, a empresa utiliza instrumentos derivativos em posição "vendida".
Do outro lado, há o "hedge de balanço", formado pelos instrumentos usados para a empresa se proteger contra a variação cambial das dívidas em moeda estrangeira no longo prazo. Conforme Ticle, a política de hedge de longo prazo é decidida mensalmente pelo conselho de administração da empresa.
Nesse processo, cabe à diretoria da Minerva sugerir a decisão a tomar, tendo como base o cenário político e econômico. Foi assim que, após as eleições de 2014, a empresa gradualmente elevou a posição de hedge (com swaps e NDFs, entrando "comprada" em dólar), considerando o risco de apreciação do dólar, que tem como efeito a elevação do valor em real da dívida da companhia em moeda estrangeira.
Em 31 de março, a Minerva tinha uma posição comprada em NDFs de US$ 451 milhões, além de R$ 219,8 milhões em swaps (cerca de US$ 60 milhões). Juntos, os swaps e as NDFs da Minerva somavam cerca de US$ 510 milhões, protegendo aproximadamente dois terços da exposição líquida ao dólar. Como o real se apreciou no primeiro trimestre, a empresa teve perda com hedge de balanço.
Apesar das perdas, os analistas Thiago Duarte e Jose Luis Rizzardo, do BTG Pactual, defenderam a política de hedge cambial da Minerva. Para os analistas do BTG, o hedge de balanço funciona apropriadamente se os riscos forem considerados. Nesse sentido, "discordamos da reação automática do mercado porque o hedge da Minerva parece apropriado considerando o tamanho de sua dívida", disseram eles.
Analistas sugeriram, ainda, que as dúvidas do mercado se devem a um problema de comunicação, e que a Minerva deve ser mais "proativa" para guiar o mercado sobre a sua estratégia de hedge. Com informações do Valor.