Publicado em 28/01/2016A denúncia feita pelo Ministério Público Federal (MPF) contra o empresário Joesley Batista, presidente do conselho de administração da JBS e da J&F Investimentos - holding que controla a JBS -, de crime contra o sistema financeiro aprofundou o movimento de queda das ações da empresa de carnes, que já perdeu R$ 25 bilhões em valor de mercado desde setembro de 2015.
O recuo das ações da JBS está relacionado, principalmente, a investigações que afetam direta ou indiretamente a companhia, de acordo com analistas. Em relatório no início de janeiro, o Citi aplicou um desconto de 15% sobre o "valuation" da JBS diante do riscos de investigação federal.
Antes dos impactos do anúncio da denúncia contra Joesley na terça-feira - as ações recuaram 20,9% nesta semana -, os papéis da JBS já vinham sendo afetados por outras três frentes: a CPI do BNDES, a investigação do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre os aportes feitos pelo banco estatal na empresa e citações sobre a J&F na Operação Lava-Jato.
O movimento dos investidores, mais receosos com as ações da JBS, contrasta com o céu de brigadeiro vivido pela companhia até o terceiro trimestre de 2015. Em 11 de setembro, os papéis da JBS atingiram a maior cotação da história na bolsa paulista, fechando a R$ 17,20.
À época, a companhia era uma 'ilha' em meio ao cenário adverso da economia brasileira, animando acionistas com o impacto favorável da alta do dólar sobre suas operações no exterior e com a maior participação da Seara no mercado de alimentos processados no Brasil. Nesse contexto e embalada por ganhos com hedge cambial, a JBS teve um lucro de R$ 3,441 bilhões no terceiro trimestre - desempenho recorde.
Mas, desde 11 de setembro, as ações da JBS vêm amargando quedas. Os papéis da empresa recuaram, desde então, 51,1%, encerrando o pregão de ontem a R$ 8,41. Nesse mesmo intervalo, o Ibovespa caiu 17,2%. Outras ações do setor de proteína animal também caíram no período, mas menos. A BRF recuou 32,7%, enquanto a Marfrig caiu 15,5%. A Petrobras, que já havia caído 33% em 2015 e agora vem sendo sofrendo com a retração dos preços do petróleo, teve queda de 40,3%.
"O mais relevante para essa queda foi a CPI do BNDES, e o divisor de águas para as ações é quando a CPI do BNDES acabar", afirmou um analista de um banco internacional. A investigação feita pelo TCU é encarada com naturalidade pelo analista. Segundo ele, o investigado no caso é o BNDES e, mesmo se a JBS recebesse uma multa do TCU, a companhia teria condições de pagar. Mas a denúncia contra Joesley gera uma crise de confiança. "Um fundo estrangeiro quer saber quem é o controlador, e o dono da JBS está sendo investigado", acrescentou.
Na avaliação de Klaus Spielkmanp, chefe de vendas de renda fixa da corretora Bulltick LLT, o medo dos investidores após a denúncia contra Joesley é justificável. "Vi um analista dizendo que é um empréstimo mal feito, mas pequeno. Realmente, não é nada. Mas pode ser um passaporte de entrada para desenvolver mais investigação", afirmou ele, citando o empréstimo triangular de R$ 80 milhões entre Banco Original e Banco Rural, pelo qual Joesley Batista foi acusado pelo MPF. O Original é controlado pela J&F Investimentos.
O diretor de relações com investidores da JBS, Jerry O'Callaghan, ponderou que o Brasil entrou em "rota negativa" a partir de setembro, mês em que a Standard & Poor's retirou o grau de investimento do país, e observou que ações de outras empresas do setor também tiveram quedas expressivas desde então. Ele disse esperar que eventuais denúncias sem fundamento sejam brevemente esclarecidas. "Não há nenhum conteúdo ou fato que aponte para algum tipo de falta de governança da JBS". Nesse cenário, porém, o investidor estrangeiro prefere se retrair, disse. Com informações do Valor.