Publicado em 03/03/2015A evasão de animais chegou a 533 mil cabeças em 2014, volume suficiente para colocar em operação 4 dos 11 frigoríficos que estão paralisados no território estadual. De acordo com o Sindicato da Indústria Frigorífica de Mato Grosso (Sindifrigo/MT), esta concorrência e a falta de animais para o abate fazem com que as indústrias do setor trabalhem com apenas 65% da sua capacidade. Agora, a entidade cobra do governo proteção para as empresas do Estado, o que inclui a revisão ou extinção da lista de preço mínimo da carne. Uma pauta de reivindicações foi entregue à Secretaria de Fazenda de Mato Grosso (Sefaz) na última semana.
O diretor-executivo do Sindifrigo/MT, Jovenino Borges, afirma que o setor quer uma tabela compatível com os preços praticados pelas indústrias. Ele cita os valores da pauta para o contra-filé e picanha fatiada. Enquanto a última lista do governo apresenta os preços mínimos de R$ 21,11 e R$ 26,87 para o quilo de cada uma delas, respectivamente, os valores médios em 3 indústrias de diferentes regiões do Estado (Cuiabá, Sinop e Barra do Bugres) são de R$ 16,85 e R$ 17,51. “Essa é a nossa ‘briga’ com o Estado. Temos que pagar ICMS com base nesse preço mínimo, mas nosso preço está abaixo da pauta. Estamos pagando imposto em cima de uma coisa que não estamos faturando”, argumenta o diretor.
A entidade pede ainda uma redução do imposto sobre a carne desossada que sai do Estado. Em contrapartida, quer que o governo aumente a carga tributária do boi vivo para fora do Estado, para que funcione como mecanismo para coibir a saída de animais. “Para o produtor não muda nada, para a indústria é um fator complicadíssimo. O governo tem que incentivar a indústria que se instalou aqui, que investiu milhões de reais. Do jeito que está saindo boi, não é possível manter essas indústrias. Essa discussão existe desde o governo anterior. A gente quer achar uma solução para segurar esses 5 mil empregos nos abatedouros do Estado”, pontua Borges, frisando que a estimativa refere-se apenas aos postos de trabalho nos frigoríficos, fora a cadeia - como os curtumes - , que deixa de empregar porque não tem matéria-prima.
Dos 533 mil animais retirados do Estado no ano passado, 180,480 mil foram para São Paulo, outros 145,485 mil para Goiás e 113,387 mil para Rondônia. Reflexo disso e de outros fatores: em 2014, Mato Grosso abateu 5,529 milhões de cabeças de gado, 8% menos que no ano anterior (6 milhões). “O boi nos outros estados é um pouco mais caro e, às vezes, não tem boi. Aí aperta e eles vêm buscar boi que está a 1,8 mil km de distância, não querem saber. Vêm de São Paulo para buscar em Alta Floresta”.
A ociosidade nos frigoríficos do Estado também é justificada pela falta de matéria-prima. Segundo Borges, por mais que Mato Grosso tenha o maior rebanho do país, com mais de 28,395 milhões de cabeças (IBGE/2013), não tem animais prontos para o abate suficientes para atender a demanda dos frigoríficos. Isso ocorreu devido ao grande abate de fêmeas e ao fato de que leva-se cerca de 3 anos para começar a normalizar a oferta. “Hoje, em Mato Grosso, além de faltar animais para atender a demanda dos frigoríficos, tenho evasão muito grande de gado para fora do Estado. A gente pede é a sensibilização do governo para coibir a saída e incentivar as indústrias de Mato Grosso porque nós é que geramos empregos e pagamos impostos. Agregamos valor na carne do boi que é abatido dentro do Estado. O boi que sai só paga ICMS e acabou. Nós que geramos empregos, movimentamos a economia de todos os municípios que têm frigoríficos”.
O que está prestes a acontecer em Nova Xavantina, localizada a 645 km da Capital, onde a Marfrig reabrirá uma unidade fechada há cerca de 5 anos (IFC - Independência). A previsão é que o frigorífico entre em funcionamento ainda em março. O prefeito da cidade, que completa 71 anos de fundação em 14 de abril, Gercino Caetano Rosa, conta que já começou o processo de seleção dos trabalhadores para a indústria, que chegou a empregar mil pessoas em 2009. A princípio a comunidade espera ter ao menos 600 novos postos de trabalho na região. “Isso sem falar nos empregos indiretos. O frigorífico movimenta postos de combustível, supermercados. A expectativa é muito grande. Estamos confiantes. Vai ser bom para o município, para a região que tem bastante gado para atender a planta”, comemora o gestor.
Outro lado - De acordo com a Sefaz, a carga tributária da carne desossada nas operações interestaduais está adequada à realidade de mercado. Porém, a secretaria, por meio de sua equipe técnica, está analisando todo o setor de carne. O órgão ressalta que nas operações internas ela é isenta. Quanto à variação nos preços definidos na pauta, a Sefaz informa que ela é corrigida regularmente de acordo com as pesquisas de mercado, uma está em andamento.
Já “a alteração na tributação da saída interestadual de gado em pé exige um estudo mais aprofundado, pois não envolve somente os frigoríficos, mas também os pecuaristas”, diz a nota da Sefaz, informando que o secretário de Fazenda, Paulo Brustolin, se reuniu com o sindicato que representa o setor no último dia 13 de fevereiro e está conduzindo estudo sobre o tema.
Exportações - Para piorar o cenário vivido pelo setor, Mato Grosso foi um dos estados que mais sofreu com a queda das exportações, que baixaram de US$ 107,597 milhões em janeiro de 2014, para US$ 69,112 milhões em igual mês de 2015 (-36%). Conforme o Sindifrigo/MT, o volume de janeiro caiu além do esperado e pode comprometer o ano todo por causa dos custos fixos da indústria. Em razão da queda do preço do petróleo, grandes compradores do Estado reduziram o consumo da carne mato-grossense (Rússia, Venezuela e Irã). “Quando estão ruins as exportações, o que você faz? Manda para o mercado interno, que incha. Causa uma redução no preço da arroba do boi e fica com mercadoria parada. A carne que ia vender com 2 dias, você gasta 10 dias. Tem que aumentar o consumo, mas não consegue. Na gôndola dos supermercados, para o consumidor, é difícil baixar”, pontua o diretor-executivo. Com informações da Gazeta Digital.