Publicado em 19/02/2015Há pouco mais de um mês, o Marfrig Global Foods pretendia fechar o frigorífico de Alegrete e demitir cerca de 620 empregados. Agora terá de contratar. A mudança radical é efeito da adesão de mais da metade do atual quadro ao Programa de Demissão Voluntária (PDV), acertado entre a empresa e o sindicato dos trabalhadores, com mediação do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região (TRT4). Decidiram permanecer na planta apenas 285 funcionários, abaixo dos 300 acertados no acordo firmado em 5 de fevereiro, após duas rodadas de negociação na sede do TRT4 em Porto Alegre.
A direção do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias de Alimentação de Alegrete (STIAA) informou que espera que pelo menos 50 vagas sejam abertas, resultado de outros ajustes no quadro, como demissões de empregados que não se candidataram ao PDV. “Ela (a direção da empresa) tem carta branca para agir”, explicou o dirigente sindical. O presidente do STIAA, Marcos Rosse, comentou que houve fila de trabalhadores para a inscrição ao programa, que prevê o pagamento de verbas rescisórias (as mesmas de demissão em justa causa) e indenização no valor de três vales de refeição mensais (R$ 450,00). Rosse detalhou que foram 328 inscrições no PDV e mais duas demissões voluntárias.
A partir da próxima segunda-feira, o sindicato programou 66 rescisões por dia até completar o quadro a ser enxugado. A direção do STIAA avalia que a empresa deverá alcançar número de 310 funcionários na unidade. Além de ter de completar o quadro, o Marfrig está deslocando integrantes das plantas de São Gabriel e Alegrete (de abates) para treinar a mão de obra em Alegrete que não atuava em desossa (85 dos 125 empregados do setor aderiram ao PDV), única operação que deve ser feita no município. “Teve setor que ficou sem gente para funcionar”, observou Rosse. O sindicato e a Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação e Afins (CNTA) negociam reajuste em acordo com a Marfrig para as quatro plantas (três de abates/desossa e uma de corned beef, em Hulha Negra). Os trabalhadores querem 16% de aumento, seguindo o piso regional, ainda indefinido devido à suspensão judicial.
A suspensão de abates de animais valerá enquanto for mantida a menor oferta de matéria-prima, segundo dirigentes do Marfrig que fizeram o acordo. A previsão é de voltar a receber animais vivos na primavera, estação de maior safra da produção no campo. A companhia alegou, ao comunicar ao governo e trabalhadores em 12 de janeiro a intenção de desativação do frigorífico, que ocorreria em 5 de fevereiro, que a irregularidade no fornecimento de bovinos gerava ociosidade de mais de 50%. A pecuária de corte no Estado, cuja oferta para processamento se mantém em pouco de 2 milhões de cabeças, registra desde o começo de 2014 valorização crescente de preços, que abriram 2015 com mais altas, segundo o Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (Nespro) ligado à Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs).
Crescimento de exportações de carnes e do consumo interno de cortes mais nobres ajuda a manter em alta os preços ao produtor gaúcho, que lideram as cotações nas praças da pecuária de corte no País. O diretor da companhia na região Sul, Rui Mendonça, informou, no começo de janeiro, que a intenção é processar 450 carcaças de bovinos por dia em Alegrete, oriundas de abates nas duas plantas gaúchas e também de unidades do Marfrig em outros estados. Com informações do Jornal do Comércio.