Publicado em 20/01/2015Aos 54 anos de idade, o empresário goiano José Batista Júnior já fez um pouco de tudo. Tocou boiada, dirigiu caminhões, foi presidente da JBS, investidor e, nos últimos anos, se dedicou à política. Desgostoso com a última experiência, ele volta à atividade que lhe garantiu o reconhecimento empresarial: o comando de um frigorífico. Ao comprar, no último dia 7, o mineiro Mataboi, que faturou R$ 1,6 bilhão no ano passado e atravessou um processo de recuperação judicial, Júnior terá a oportunidade de reviver os seus tempos à frente da JBS Friboi. Período que garantiu a ele o apelido pelo qual é mais conhecido nos meios empresariais e políticos, Júnior Friboi.
Em 2013, Júnior resolveu desvincular-se do grupo, para poder perseguir o seu sonho de governar Goiás sem contaminar os negócios da família. Vendeu as suas ações da J&F – a holding controladora da JBS e de outros negócios, como a marca de laticínios Vigor, a fabricante de celulose Eldorado Brasil e o banco Original – para os irmãos Wesley e Joesley, e se dedicou a promover, primeiramente pelo PSB e depois pelo PMDB, a sua candidatura. Nesses dois anos, paralelamente à atuação política, ele passou a dar mais atenção à sua holding particular, a JBJ Investimentos.
Formada inicialmente por seis fazendas voltadas à criação de gado de corte e melhoramento genético, inclui ainda um braço imobiliário, a JFG Empreendimentos, que tem como sócio o genro Gabriel Paes Fortes, neto do fundador da construtora carioca João Fortes Engenharia. No entanto, passada a eleição em Goiás – da qual Júnior acabou desistindo de concorrer –, a tentação da carne acabou prevalecendo sobre os demais negócios. Com a aquisição do Mataboi, por valor não revelado, ele passa a deter o controle de uma empresa considerada forte no setor.
Com 2,8 mil funcionários, não se compara em tamanho com os gigantes do setor, como a própria JBS, a Marfrig e a Minerva Foods. Mas tem unidades de grande porte em São Paulo, Minas Gerais e no Centro-Oeste, com capacidade de abate de 2,6 mil bovinos por dia. Foi criado em 1949, em Araguari, no interior de Minas Gerais, e pertencia à família do empresário Nicolau Dorazio. “O Mataboi é o único frigorífico brasileiro que pediu recuperação judicial e conseguiu se tornar saudável”, diz Alex Lopes, analista especializado no setor de boi da Scot Consultoria, de Bebedouro (SP).
“Ele não está mais em uma situação ruim nem precisava ser vendido. Foi um negócio de oportunidade para Júnior.” Ao incluir um frigorífico no portfólio de negócios da JBJ, o empresário também garante um importante comprador para o gado criado em suas fazendas. O conhecimento de Júnior sobre o setor vem desde cedo. Primogênito de José Batista Sobrinho – o Zé Mineiro, fundador da Friboi –, Júnior passou a maior parte de sua vida atrelado à empresa da família. Foi figura-chave na transformação da companhia criada pelo pai, na década de 1950, para vender carne ao exército de trabalhadores recrutados para a construção de Brasília, na maior produtora de proteína do mundo.
Aos 14 anos, Júnior passava dias tocando a boiada, em cima de um burrico. Poucos anos depois, ganhou a confiança dos donos de açougues da capital federal, a ponto de ter a cópia das chaves de suas portas e poder fazer, de madrugada, as entregas de carne, o que deu um diferencial estratégico ao seu frigorífico. Nomeado presidente pelo pai, Júnior permaneceu por 25 anos no cargo de presidente da JBS, que agora é gerida por Wesley. Segundo o consultor Lopes, da Scot, o empresário sabe que vai precisar valer-se de sua experiência anterior na JBS para dar conta dos desafios à frente do Mataboi.
“O momento está bom para o pecuarista, mas difícil para a indústria, que tem 70% de seus custos relacionados à matéria-prima”, diz Lopes. “O preço do boi subiu 30%, no último ano, mas os atacadistas conseguiram repassar apenas 20% para os varejistas, que por sua vez só aumentaram em 10% os preços Com informações da Istoé..