Publicado em 22/12/2014Segundo o jornal Valor Econômico, a JBS, maior processadora de carne bovina do mundo e conhecida pela marca Friboi, creditou R$ 800 mil em duas contas correntes de uma empresa fantasma investigada pela operação Lava-Jato. Segundo a Polícia Federal (PF), a conta está em nome de um laranja usado por doleiros como Carlos Habib Chater, condenado pela Justiça Federal a cinco anos e seis meses de prisão por lavagem de dinheiro e envolvimento com o tráfico internacional de drogas.
Preso preventivamente desde 17 de março, Chater integrava o esquema financeiro paralelo de Alberto Youssef. Pivô da Lava-Jato, Youssef é acusado de usar empresas fictícias para simular contratos com empreiteiras e desviar recursos da Petrobras.
A JBS fez quatro depósitos de R$ 200 mil em duas contas correntes da empresa Gilson M. Ferreira Transportes ME, totalizando R$ 800 mil.
Segundo análise da perícia da Polícia Federal, quatro contas em nome da empresa fantasma movimentaram R$ 58,8 milhões entre créditos e débitos somente no período de 2012 a 2013.
A PF descobriu que a suposta transportadora com endereço informado em São José dos Pinhais (PR) não existe: "Nas diligências realizadas no local indicado como sede da empresa, agentes do núcleo de operações não lograram êxito em localizar qualquer empreendimento comercial na área (...) A rua não tem sequer pavimentação".
A empresa - aberta em 29 de julho de 2011 e que consta como ativa no cadastro da Junta Comercial da cidade paranaense - tem como sócio responsável Gilson Mar Ferreira, que, segundo agentes federais, vive na periferia da cidade, à beira de um córrego conhecido como Rio Pequeno. "Trata-se de um imóvel simples, situado numa comunidade carente, às margens do rio que dá nome ao bairro da periferia da cidade", relata o inquérito policial.
As contas da empresa de Gilson Ferreira também foram destinatárias de três transferências, totalizando R$ 355,2 mil, que partiram do Posto da Torre, de propriedade de Carlos Habib Chater. Localizado em Brasília, o posto de gasolina contava com uma casa de câmbio ilegal. Segundo a investigação da PF, o posto operava como uma espécie de entreposto de entrega de dinheiro vivo, que era enviado por doleiros a políticos.
Também réu por lavagem de dinheiro, o gerente do Posto da Torre, Ediel Viana da Silva, disse que "[os políticos] não iam pessoalmente ao posto. Eram terceiros e muita gente retirava dinheiro".
Braço direito de Chater e delator do esquema criminoso, Silva contou em depoimento à Justiça Federal do Paraná que João Claudio Genu, ex-chefe de gabinete da liderança do PP na Câmara e condenado no mensalão, e o ex-deputado federal Pedro Corrêa (PP-PE), cassado por envolvimento no mensalão, frequentavam o Posto da Torre. Genu supostamente usava serviços de uma pessoa identificada apenas como Lucas para fazer retiradas do dinheiro encaminhado por Youssef.
O Grupo JBS doou legalmente R$ 352 milhões a candidatos a presidente, senador e deputado nas eleições de 2014. Foram R$ 73,3 milhões repassados à campanha para reeleição da presidente Dilma Roussef (PT). Para a campanha presidencial do tucano Aécio Neves (MG) foram destinados R$ 48 milhões.
Empresa nega participação em esquema
A JBS refutou "de forma veemente" a notícia veiculada na imprensa nacional nesta segunda-feira que associou a companhia com contas bancárias envolvidas na operação Lava Jato e informou que os pagamentos realizados "não são objeto de nenhum esquema".
Em comunicado ao mercado, enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a companhia destacou que os pagamentos citados pela reportagem "são oriundos de um contrato de aquisição da unidade industrial em Ponta Porã no Mato Grosso do Sul, um Centro de Distribuição em São José dos Pinhais no Paraná e um outro Centro de Distribuição em Itajaí, Santa Catarina, cujos vendedores eram Tiroleza Alimentos Ltda., Ademar Marquetti de Souza, Paulo Roberto Sanches Cervieri e Rodo GS Transportes e Logística Ltda".
A companhia esclarece que os "pagamentos referentes à aquisição foram feitos nas contas bancárias indicadas pelos vendedores". A empresa afirmou que as contas correntes indicadas pela Rodo GS em 2012 são, neste momento, "objeto de investigação citada na matéria". A JBS diz ainda que os pagamentos realizados foram feitos de acordo com o "contrato assinado pelas partes, bem como em conformidade com a legislação vigente" e que possui documentação que comprova que os pagamentos não são objeto de "nenhum esquema". Com informações do Valor e do Estado de Minas.