Publicado em 18/11/2014Os altos preços do boi gordo no mercado mato-grossense revelam um alívio para este setor, que vinha sofrendo descapitalização nos últimos 10 anos. Na primeira semana de outubro, o valor médio nas regiões do estado atingiu o valor de R$ 125,29 por arroba. Segundo o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), o preço do boi gordo foi o maior da história.
Isto acontece porque a oferta de animais está baixa no estado. O Sindicato das Indústrias de Frigoríficos do estado de Mato Grosso (Sindifrigo/MT) confirma a escassez acentuada, entretanto a encara com naturalidade nesta época do ano, devido à seca prolongada no estado e à retenção de fêmeas pelos pecuaristas.
Adriano Guimarães, gerente de compra de um frigorífico em Alta Floresta, região Norte de Mato Grosso, confirma a falta de animais terminados (boi gordo e vaca gorda para abate) para a indústria na sua unidade, que fica na principal região produtora do estado e tem uma capacidade de abate de 800 cabeças de gado por dia. “O mês de outubro foi o pior do ano, com cerca de 330 cabeças abatidas por dia. Porém, desde a última quinta-feira (6), têm aparecido bastante fêmeas e tenho conseguido abater de 650 a 700 cabeças por dia”.
A empresa tem pago R$ 119 por arroba de vaca gorda e R$ 127 por arroba do boi gordo aos produtores, que são em sua maioria dos municípios de Carlinda, Paranaíta, Apiacás e Alta Floresta. Ele afirma que, no mesmo período do ano passado, não houve tamanha escassez na oferta e espera uma melhora para o mês de dezembro. “Se a chuva tivesse vindo no mês passado, eu creio que a oferta teria sido melhor”.
Um dos produtores que abastecem o frigorífico, Francisco Militão, conta que é comum a falta de gado no fim do ano, mas acredita em uma nova forma de produzir que pode resolver a baixa oferta no período de seca no futuro.
“Eu concentro as vendas no mês de agosto, setembro e outubro. Não tenho mais animal terminado. Com um trabalho de tecnologia e acompanhamento técnico, nós otimizamos em até quatro vezes a produção na área da propriedade, fazendo um rodízio dentro da fazenda e dando o que o boi necessita para a engorda”, conta entusiasmado o pecuarista.
O manejo de Militão reduz o período de engorda e, consequentemente, diminui o tempo para entregar animais terminados aos frigoríficos. Segundo ele, é preciso apenas 24 meses para se chegar neste estágio, sendo que antes o pecuarista abatia o gado com 36 meses de idade no mínimo. Ele também tem retido as matrizes, porque observa que pode faltar animais no mercado e analisa que será preciso em média dois anos para restaurar a oferta de animais prontos para o abate.
Para o consultor da Associação dos Criadores do Estado de Mato Grosso (Acrimat/MT), Amado Oliveira, essa situação enfrentada em Mato Grosso decorre de três fatores. “As irregularidades no ciclo de chuvas, o abate de fêmeas no passado em função da descapitalização ocorrida por causa dos baixos preços no setor e, por último, o aumento do consumo nos meses de novembro e dezembro, que se mede dentro do mercado geral”.
De acordo com Oliveira, a volta das chuvas deve normalizar as pastagens e regular o mercado. No futuro, os desafios aos pecuaristas incluem aumentar a produtividade e utilizar linhas de crédito para adquirirem novas matrizes e reter as que já estavam no rebanho ao invés de descartá-las.
Gado nelore em Mato Grosso
Durante o período de estiagem, os municípios de Diamantino (Centro-sul), Sorriso (Médio-norte) e da região sul do estado fornecem a maior quantidade de animais aos frigoríficos, pois são regiões onde se costuma confinar, conforme explica o presidente do Sindifrigo/MT, Luis Antônio Freitas.
Já as regiões Norte e Nordeste, em que predominam fazendas no sistema extensivo, entregam mais animais no período normal da safra, segundo Freitas. O presidente aposta na valorização da cria para que o setor não passe pelo mesmo cenário no futuro.
“O setor da engorda tem se profissionalizado com a intensificação da produção, a indústria evoluiu e as negociações no mercado internacional cresceram. Então agora é preciso ter foco na cria, toda a cadeia produtiva tem que ter uma maior preocupação com o bezerro para não faltar animal terminado no futuro”, indica Freitas.
Marcel Valeiro, pecuarista em Jaciara e Juscimeira, região Sudeste de Mato Grosso, faz cria, recria e engorda na propriedade. O produtor comenta as dificuldades que enfrenta com a atividade da cria, diante dos gastos consideráveis com as matrizes e do baixo retorno que a venda do bezerro tinha no passado. Porém, o momento com o preço em alta do bezerro tem valido a pena.
Ele possui mil cabeças de gado e também esgotou seu estoque de animais terminados neste fim de ano. “O preço fica bom quando não temos gado para vender, essa é a lógica do mercado”, analisa. Com informações do G1.