Publicado em 07/11/2014Afetada pelo impacto de cerca de R$ 290 milhões provocado pela desvalorização de pouco mais de 10% do real sobre suas dívidas em dólar, a Minerva Foods, terceira maior produtora de carne bovina do Brasil, teve um prejuízo líquido de R$ 193,8 milhões no terceiro trimestre deste ano, ante um lucro líquido de R$ 1,4 milhão no mesmo intervalo de 2013.
A perda da Minerva não tem efeito sobre o caixa, já que a companhia não desembolsa esse aumento de dívida causado pela variação cambial, afirmou o diretor financeiro da empresa, Edison Ticle. Segundo ele, caso o efeito da variação cambial sobre a dívida fosse desconsiderado, a Minerva teria encerrado o terceiro trimestre com lucro de R$ 107 milhões.
Na área operacional, a Minerva registrou forte crescimento, impulsionada pelo aumento de capacidade de abate de bovinos - no terceiro trimestre, a empresa assumiu a operação de duas unidades em Mato Grosso que pertenciam à BRF. Com isso, a receita líquida da Minerva no terceiro trimestre totalizou R$ 1,805 bilhão, alta de 20,8% na comparação com os R$ 1,495 bilhão do mesmo intervalo do ano passado.
No terceiro trimestre, o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) da Minerva atingiu R$ 177,8 milhões, alta de 8,9% ante os R$ 163,3 milhões reportados um ano antes. "Tivemos um resultado muito expressivo de geração de Ebitda, mesmo com margem caindo um pouco", disse Ticle. De fato, a margem Ebitda da Minerva recuou, de 10,9% no terceiro trimestre de 2013 para 9,8% no terceiro trimestre deste ano.
Segundo o executivo, as plantas que a empresa assumiu da BRF são a principal causa para a redução da margem no trimestre, uma vez que as unidades tinham um nível de margem inferior ao patamar da Minerva. Sob a BRF, os dois frigoríficos tinham sua produção voltada ao mercado interno. Sob a gestão da Minerva, a produção deles será destinada à exportação. "As operações de Mato Grosso estão em 'ramp up'. Ainda não fomos capazes de extrair todas as sinergias. Deve levar pelo menos três trimestres", afirmou.
Apesar do potencial da alta do boi para pressionar as margens, o presidente da Minerva, Fernando Galletti de Queiroz, disse que a empresa conseguiu repassar preços para a carne. Ele enxerga ainda mais espaço para isso nos próximos trimestres, sobretudo no mercado externo, onde a empresa obteve 64% de seu faturamento.
No terceiro trimestre, o preço médio das vendas da Minerva no mercado interno subiu 16%, enquanto que no externo a elevação foi de 17%. Em contrapartida, o preço médio do boi gordo subiu 7,5% entre a média de R$ 119 por arroba verificada em julho para a média de R$ 128 no mês de agosto.
Diante da possibilidade de aumentar preços nas exportações, Ticle afirmou que, em setembro, a Minerva segurou as vendas, aumentando os estoques em cerca de R$ 80 milhões. "Elevamos o estoque como política para segurar carne e 'pegar' preços melhores no quarto trimestre", justificou. Segundo ele, essa estratégia foi seguida por pelo menos um outro grande frigorífico, o que explicaria a queda do volume de carne bovina exportada pelo Brasil em setembro e outubro.
Ticle observou que, mesmo com a variação cambial, o índice de alavancagem (relação entre dívida líquida e Ebitda) da Minerva teve pequena variação, passando de 3,41 vezes no fim de junho para 3,47 vezes no fim de setembro, quando a dívida líquida da empresa totalizava R$ 2,569 bilhões. No terceiro trimestre, a Minerva também gerou um fluxo de caixa livre positivo de R$ 10,3 milhões. Com informações do Valor.