Publicado em 08/04/2014Encorajados pelo ressurgimento da demanda por títulos de alto risco, os frigoríficos Marfrig Global Foods e JBS estão voltando aos mercados externos para financiar os pagamentos de dívida.
A JBS, a maior produtora mundial de carne bovina, está utilizando o arrecadado com a venda de US$ 750 milhões em notas a 7,5 por cento com vencimento em 2024, realizada no mês passado, para pagar empréstimos com taxas de juros de até 12 por cento. A Marfrig, fornecedora dos restaurantes da McDonald’s e da Burger King Worldwide, resgatará as notas com cupons de até 11,25 por cento com dinheiro da emissão de US$ 275 milhões em títulos a 9,5 por cento, realizada em 13 de março.
A dívida de grau especulativo de mercados emergentes retornou 2,4 por cento nos últimos trinta dias, pois diminuiu a preocupação com que a atuação da Reserva Federal americana para reduzir seus estímulos leve a perdas nos mercados emergentes. A Marfrig e a JBS também estão se beneficiando com a especulação de que o Brasil não enfrentará mais rebaixamentos de nota após sofrer o primeiro em uma década no mês passado, pelo Moody’s Investors Service, conforme a INTL FCStone Securities.
“Eles fizeram seu dever de casa, readquiriram dívida mais cara e emitiram a taxas mais baixas”, disse Vinícius Pasquarelli, operador de dívida de mercados emergentes do Standard Credit Group, em entrevista por telefone de Miami. As empresas de carne bovina aproveitaram uma percepção do Brasil “ligeiramente melhor”, disse ele.
A Marfrig, com sede em São Paulo, vendeu mais das suas notas com vencimento em 2020 no mês passado, na sua primeira oferta no exterior desde agosto de 2013, segundo dados compilados pela Bloomberg.
Planos da Marfrig
O CEO da Marfrig, Sérgio Rial, disse em 26 de março que a empresa planeja fazer a abertura de capital das suas duas subsidiárias no exterior para reduzir um terço da razão de dívida. Ele estima que a empresa reduziria a dívida líquida a 2,7 vezes os lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização até o final de 2015 vendendo participações de 25 por cento a 30 por cento na unidade americana Keystone Foods e na irlandesa Moy Park. A razão se compara com uma de 4,2 vezes no final do quarto trimestre.
A JBS, com sede em São Paulo, vendeu seus títulos para 2024 com um rendimento de 7,25 por cento em 31 de março, segundo dados compilados pela Bloomberg.
O diretor de relações com investidores da JBS, Jeremiah O’Callaghan, disse em entrevista por telefone, de São Paulo, que a venda de dívida também ajudou a empresa a prolongar a média de vencimentos da dívida em mais de seis meses, de por volta de 3,5 anos para mais de 4 anos.
As notas de referência da Marfrig com vencimento em 2021 retornaram 15 por cento neste ano, mais do que os títulos de qualquer uma das outras 1.792 empresas de alimentos e bebidas acompanhadas pela Bloomberg. A dívida da JBS com vencimento em 2023 ganhou 7 por cento.
Queda da emissão
Klaus Spielkamp, diretor de renda fixa da Bulltick Securities, disse que o rali nos títulos das empresas de carne bovina pode desaparecer nos próximos dois meses à medida que os investidores reduzam suas posses pela preocupação com que as eleições presidenciais em outubro desencadeiem um aumento da volatilidade.
“Os ativos podem continuar ascendendo pelo menos até a Copa do Mundo”, em junho, disse ele em entrevista de Miami.
A Marfrig e a JBS se beneficiaram com a escassez de vendas de dívida com grau especulativo neste ano, conforme Carlos Gribel, vice-presidente de mercados emergentes da INTL FCStone Securities. A emissão de grau especulativo no País totalizou US$ 8,9 bilhões neste ano, 41 por cento a menos do que no mesmo período em 2013, segundo dados compilados pela Bloomberg.
“Há muito dinheiro para alocar no Brasil e há poucas emissões”, disse Gribel. Com informações da Bloomberg e do portal Exame.